Foi a segunda vez que o ouvi. E gostei do que ouvi. Embora não me deslumbrasse, que eu ando nestas coisas há tempo suficiente para não me deixar deslumbrar facilmente. Tem uma visão nova, desempoeirada, que questiona as coisas da fé e da Igreja, e isso faz-me sempre bem. Porque questionar a fé e a Igreja é questionar-me a mim próprio e aquilo em que acredito, e questionar-me a mim próprio é contribuir para construir alicerces mais sólidos e profundos. Até aí tudo bem. A questão foi quando eu lhe pedi "por acaso não estará disponível para...". Vi logo nos seus olhos, na maneira como os desviava dos meus, no contraste da sua linguagem corporal com a que evidenciara enquanto proferia a sua palestra, o que a sua boca não conseguiu responder. Disse-me que sim quando eu lia distintamente que não. Tudo bem. Também eu sou muitas vezes encostado à parede, preso na armadilha que as minhas próprias palavras cuidadosamente me armaram. Nada de novo, portanto. Ontem, quando tentei confirmar o seu compromisso, disse que afinal não poderia ser. Tudo bem, na mesma. Também eu o faço algumas vezes - cada vez menos, espero, ou pelo menos, luto muito para que assim seja - também eu me refugio numa qualquer eventualidade que mais não é que uma desculpa que eu poderia contornar se assim o quisesse verdadeiramente. Vamos ao que verdadeiramente importa, à lição do dia para o sr. José: seja o teu falar sim, sim, não, não. Não te ponhas com demasiadas expectativas nem deixes que as ganhem em relação a ti. O que puderes fazer, faz. O que não puderes, faz na mesma se for mesmo importante. Mas não penses que podes tudo. Nem que a vontade pode tudo. E quando não pode - e tu sabes sempre quando não pode - di-lo na cara de quem conta contigo, ainda que vejas a deceção nos seus olhos. Custa, claro que custa, mas custa menos que deixá-la com as calças na mão. Como eu estou. Aprende, José, que eu não duro sempre!

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