Como tantas outras coisas, a amizade chegou demasiado tarde à minha vida: Nos meus primeiros anos - aqueles que estabelecem os alicerces de quem instintivamente somos - saltei de casa em casa, de lugar em lugar, de escola em escola, e isso impediu-me de fazer amigos. Quando finalmente estabilizamos tinha eu já mais de dez anos e ainda assim saltei por várias escolas. A minha primeira raiz foi a capela, já com quinze anos, que foi o verdadeiro motor de mudança. Anos mais tarde, voltei a saltar e, da noite para o dia, mudei-me para uma nova paróquia, um novo grupo de jovens e um novo grupo de amigos. Foi quando conheci a minha mais-que-tudo e aqueles que ainda hoje são meus amigos. Também nas profissões saltei de lado para lado até que, pela Graça de Deus, desaguei onde estou hoje, e onde tenho alguns dos meus mais sólidos amigos. Em todos os lugares por onde passei tenho gente de quem gosto bastante e que gosta bastante de mim. São meus amigos? Não sei. Não sei mesmo. Não sei se terão aquela disponibilidade, aquele à vontade, aquela prontidão que nos faz ser amigo de alguém. E muito menos sei se haverá já intimidade, ou pelo menos vontade de intimidade, que nos leva a sentir alguém como imprescindível na nossa vida. Como um amigo.

Odeio telefonar seja a quem for. Seja por que motivo for. Raramente atendo telefonemas de alguém. No entanto, esta semana, liguei a um amigo porque a notícia que recebera era tão boa que não podia deixar de o fazer só para ouvir a alegria na sua voz. Também se contam pelos de dedos de uma mão as pessoas a quem telefono no seu aniversário. Têm mesmo que ser muito minhas, muito especiais, para o fazer. Da mesma forma, por muito macabro que possa parecer, quando recebi a notícia da morte do meu amigo Paulo, eu senti pela primeira vez que tinha que estar no velório de alguém, junto do seu corpo, não queria estar naquela altura noutro lugar. Também quando caminho junto ao mar, ou de noite sob um luar - real ou apenas na minha memória - tenho mesmo que dar seguimento a esta ligação forte que me une a quem sei que ficará tão feliz quanto eu por saber que caminhamos juntos, não apenas naquela altura, mas sempre.

Esta coisas não se explicam são assim mesmo. Talvez por a amizade ter chegado demasiado tarde à minha vida, eu dou-lhe uma enorme importância. Ter com quem contar, aconteça o que acontecer, faça o que fizer, diga o que disser, é um privilégio apenas ao alcance de quem conhece, verdadeiramente, o amor. Eu descobri-o tarde. Mas tenho a vantagem e a Graça de viver esse amor com a inocência e a intensidade de um (eterno?) adolescente.

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