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A mostrar mensagens de novembro, 2016
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Por muito que espere e goste de esperar, por muito que eu pense que a minha vida é um quase permanente advento, por muito que me ache preparado para as curvas da vida, não consigo deixar de ser surpreendido. Por vezes acho que esta esperança constante, este fazer e refazer permanente, esta ausência de planos pré-definidos não passam de uma defesa mal amanhada para tentar lidar com a imponderabilidade da vida. Se não consigo controlar coisa nenhuma, porque não render-me ao nada que sou? Abro os braços, metaforicamente ou não, e preparo-me para o embate. Talvez por isso as botas de caminhar e a mochila sejam uma presença constante no meu imaginário consciente. Sinto-me sempre preparado para partir, lutando permanentemente para me libertar das amarras de cada vez que me tentam prender. Imaginem agora esta forma de sentir a vida num casamento de mais de vinte e cinco anos. Apenas posso imaginar como será para a Isabel - que nisto como em muitas coisas é o oposto de mim - lidar comigo e
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A verdade tem como hábito ser desagradável. Qualquer que ela seja. Por vezes chega cedo de mais, outras não aparece quando mais precisamos e, pelo menos a mim, surge frequentemente na forma de bofetada na cara. Nunca fomos muito íntimos, eu e a verdade. Nunca entendo aquela coisa que a minha sogra diz de peito cheio "a verdade acima de tudo, custe o que custar, doa a quem doer", particularmente quando a vejo atirar a verdade como quem dispara uma arma. Há verdades que escondo, outras que adio, outras que suavizo. O mal é que todas acabam por dar à tona da vida respeitando a fatídica Lei de Murphy, na pior altura possível. No mundo de fantasia que me acolhe quando estou atrapalhado a verdade fica de fora, como quem descalça os sapatos com que anda na rua para não conspurcar o ambiente. Aí, nesse mundo só meu  - muitas vezes mais real que o mundo real - não existem problemas, confusões, trapalhadas, dores ou sofrimentos. Na verdade, não existe nada. absolutamente nada. Nem
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Nesta manhã atarefada, vinha a subir as escadas em passo rápido mas ele quase me obrigou a parar. Estava lá em baixo, na arena, rodeado de miúdos muito miúdos, e sorria e metia-se com eles, e brincava e utilizava a sua sonora voz para os impressionar e intimidar... na brincadeira. Por vezes gostava de ter o tempo e a coragem de fazer mais coisa nenhuma a não ser isto: observar aqueles que, a cada momento, me rodeiam. Apanhá-los assim, como ele estava, completamente desprevenidos, e poder apreciar o seu lado bom, aquele que o cargo ocupado força a permanecer quase escondido talvez pelo medo de se contagiar na alegria e se perder a autoridade das coisas sérias. Olhar as pessoas assim, seja num breve espaço de tempo seja num tempo mais demorado, conduz-me sempre a novas perspectivas, a novidades, a traços até então desconhecidos ou esquecidos de tão pouco vistos. Não me é nada raro alterar a minha percepção sobre alguém a partir de um momento destes. Um brilho no olhar, um gesto de at
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Lá em casa, a discussão sobre a fé, a religião, o papa, cristianismo e afins está sempre tão aberta como qualquer outra sobre a democracia, homossexualidade, casamento, direitos e afins. A partir da altura em que os meus filhos usam a cabecinha para pensar - e fazem-no desde muito cedo - não me recordo de alguma vez ter dito aos meus filhos que "isso" não se discute. Todos encontramos espaço para discutir o que quer que seja, desde os temas mais pacíficos - onde estamos quase todos em sintonia - aos aparentemente mais fraturantes - sem a presença da avó, claro, para não lhe dar um xelique - porque para nós sempre foi muito importante discutirmos abertamente para podermos saber o que cada um pensa e aprendermos uns com os outros. Nas discussões sobre a Igreja é frequente aperceber-me como os meus filhos andam aparentemente perdidos. Apesar do seu sentimento de pertença - para alguns apenas por causa do caldo cultural onde nasceram - são fortemente contestatários das posiçõ
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Há palavras ou expressões ou ditos que me perseguem desde que tenho consciência de mim. Um destes dias estava numa eucaristia e o sacerdote falava daqueles que, mesmo sem terem disso grande consciência, se servem dos outros como combustíveis para si próprios. A minha memória de elefante teletransportou-me imediatamente várias décadas, levando-me de volta a uma outra conversa. igualmente com um sacerdote, que me acusava sub-repticiamente de utilizar as pessoas como quem come laranjas: aproveitando o sumo, deitando fora a casca. Na altura eu era demasiado novo e a imagem do sacerdote tinha ainda um peso específico que me impedia de o contestar. Se um padre me dizia aquilo - apesar de não me conhecer de lado nenhum e saber mais tarde que estava a satisfazer encomendas - só podia ser verdade. E deixou marcas. Esta hipótese assalta-me muitas vezes. Até porque a verdade é que eu me alimento das pessoas que me rodeiam: da sua sabedoria, da sua capacidade, da sua disponibilidade, do seu ime
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Pelo segundo dia consecutivo a caminhada não foi junto ao mar mas no parque, a escassos metros, mas verdadeiramente um outro mundo. Uma mistura de cores e cheiros verdadeiramente avassaladores, tendo apenas o barulhos dos passos e dos patos como companhia. É muito fácil começar o dia a louvar a Deus, ali, naquele lugar, que me recorda sempre o Tozé que, provavelmente sem sequer se aperceber disso, foi quem me despertou para esta presença de Deus no belo da natureza. Dois mundos completamente diferentes fora de mim, dois mundos ainda mais diferentes cá por dentro. A paisagem exterior ontem fora a mesma, mas a interior estava radicalmente diferente! O desassossego deu lugar à tranquilidade, o tumulto, à serenidade. Objetivamente nada mudou de um dia para o outro, não foram tomadas decisões para além das de todos os dias, não aconteceu a descoberta da cura para o cancro (e como a vou pedindo!) e o que estava por resolver continua por resolver. Não se trata de universos exteriores mas
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Por esta altura já devia saber que a uma bacorada saída desta boca se segue um ensinamento tendo-me como destinatário. Face a uma crise de estômago até então por mim desconhecida, confidenciei a algumas pessoas que não sei lidar com a minha fragilidade física. "com a psicológica já estou habituado, agora a física..." Esquecera-me que enquanto a fragilidade física tem uma repercussão quase exclusivamente pessoal, os meus devaneios deixam, não raras vezes, marcas em vidas alheias. E que na verdade, isso me é ams insuportável que uma dor de estômago, por muito má que ela possa ser.
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Andamos todos à procura de paz. Daquela paz que nos permite dormir à noite, andar de cabeça erguida, olharmo-nos ao espelho, falarmos com quem quer que seja sem pensarmos no que aí vem. Era eu ainda miúdo e recordo-me que essa paz não passava de uma miragem. Vivia como que temeroso, envergonhado, a sentir-me constantemente devedor dos outros e do mundo. Depois acabei por me refazer mas aprendi cedo que de uma paz assim é muito mais fácil falar que conseguir. E que, mesmo para mim, que segundo alguns dos que me rodeiam tenho uma consciência por vezes muito pouco consciente, esta é uma paz que não conheço muitas vezes. Tenho essa mania de me perscrutar quase quotidianamente, quase obsessivamente, tentando perceber quem magoei desta vez, a quem é que disse o que não devia ou deixei de o fazer a quem o devia, revendo cada gesto e cada palavra que saíram de mim. A maior parte das vezes acabo por me render à evidência do que sou, num mal conseguido exercício de baixar a fasquia, e arranjo
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Ainda na semana passada, a propósito de anjos e encontros e vozes de Deus, perguntava como é que sabemos que as voz de quem nos fala vem de Deus ou se estamos a ser endrominados por uma qualquer pessoa com jeito para falinhas mansas. Não importa para aqui a origem da voz. Conheço pessoas da Igreja a quem não daria ouvidos de forma alguma e outras dos bairros que escuto atentamente. Não é uma questão de proveniência, portanto. Também não dou particular interesse à idade ou condição social, que pouco ou nada têm a ver com a sabedoria que procuro. Mas então, como saber? Tivesse eu uma personalidade forte e provavelmente esta questão nem sequer se colocaria. Não que as personalidades fortes não tenham duvidas mas porque encontram sempre forma de lhes responder. Nós, os que se questionam permanentemente, é que temos mais dificuldade. Até porque a cada nova resposta entrevemos rapidamente uma nova questão. Nesse encontro, enquanto ia colocando questões, ocorreu-me que a forma de o sabermo
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Por vezes - sempre dolorosas vezes - descubro-me pródigo em balelas. Por vezes são os meus mais próximos que mo dizem, por vezes carinhosamente, outras de forma ríspida, provavelmente porque mereço bem o que me dizem. Uma das mais pródigas balelas saídas da minha boca tem amar como temática. É que eu normalmente acredito mesmo na imensidão de amar. Amar, não amor. Amar, um ato vivido, sentido, propositado, com destinatário concreto e definido, e não Amor, essa coisa demasiado global indefinida que pode ser tudo e nada. Encho muitas vezes a minha boca - a minha vida - com o Amar, tentando conjugá-lo com verdade, com disponibilidade, com abertura e concessão de espaço. E deixo-me enredar nas minhas próprias palavras, na minha forma muito minha  - não são todas as nossas formas muito nossas? - de amar. A tal ponto que às tantas são-me ditas muitas vezes e feitas sentir outras tantas e mais ainda que amar não chega. Que amar é pouco. que amar, mesmo vivido ou tentado na sua plenitude nã