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A mostrar mensagens de janeiro, 2015
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Se, como canta Sérgio Godinho, a vida é feita de pequenos nadas, tudo o que envolve a vida afetiva é feito de ainda mais pequenos nadas. Pequenos pormenores, pequenos hábitos, que se vão instalando, e às tantas constituem o que verdadeiramente somos como pessoas... e como famílias! Quem tem filhos sabe que vivemos tempos desafiantes. Antes, quando os miúdos eram pequenos, era fácil: uma cassete vídeo, todos no sofá, e tínhamos mais uma coisa em comum. Consigo cantar todas as canções dos filmes da Disney - e, garanto, faço-o com um enorme gozo - contar as suas histórias e até tenho as minhas personagens favoritas e filmes favoritos e canções favoritas... Quando vieram os telemóveis e os computadores a coisa complicou-se mais um bocadinho. A tentação de cada um - a começar por mim - se refugiar no seu mundo privado é maior e evitar que isso aconteça requer algum jogo de cintura. Mas complicado mesmo foi quando instalamos a internet sem fios lá em casa. Agora não tinha que estar ligad
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"O controlo de nós mesmos por amor aos outros mantém-nos alerta. A paz do coração, para os outros e para nós mesmos, pode implicar este esforço: não nos deixarmos levar pelas emoções ou pelas impressões que a imaginação frequentemente amplifica. " http://www.taize.fr/pt_article183.html Descubro frequentemente que a minha irritação exterior é apenas uma manifestação da minha zanga interior. Comigo mesmo. Sempre que as coisas não me correm bem - e, para mim, as coisas não me correrem bem é eu ficar aquém do que eu próprio exijo de mim - começo por me zangar com o mundo e depois, só depois, descubro que é comigo que ando zangado. Hoje cheguei lá por dois caminhos, os melhores caminhos que eu sempre percorro para chegar a mim: primeiro, a voz de quem me ama; depois, a reflexão, sozinho, peripateticamente, no silêncio ensurdecedor que reconhece a razão a quem a tem. A seguir, um terceiro momento, muito importante: ok, tens razão, vou alterar o meu percurso. Esta é a minh
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Um dos meus maiores defeitos é a minha falta de pachorra para choradinhos. Não posso com o discurso do coitadinho, sobretudo quando tem como base a comparação com outros que vivem realidades distintas e ainda mais sobretudo quando passam por cima das suas próprias realidades. Numa destas últimas semanas, num dos dias de reflexão, um aluno veio-me com um choradinho qualquer que me fez logo torrar a paciência. Disse-lhe logo para ir comigo 15 dias a Ramalde que aquilo passava-lhe. Curiosamente, uns dias depois, foi um dos miúdos de Ramalde que se tentou justificar com as suas circunstâncias. Disse-lhe para olhar para o outro lado da avenida, mesmo em frente ao nosso Espaço, e comparar a sua situação com a de quem já não estava lá porque dias antes houvera uma rusga policial que prendeu meia dúzia de colegas dele. Na semana passada sentei-me com o meu mais novo e disse-lhe justamente isso, que não viesse com choradinhos porque ele tem todas as condições para ser o que quiser ser desde
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Todos os dias tenho alturas em que me divido entre o que sou e o que quero ser, ou sou chamado a ser, que para mim é o mesmo. Fruto de todas as circunstâncias da minha vida, esta é uma batalha muito presente, muito sentida, muito vivida, e nada fácil. Tendencialmente, sou muito fechado, muito metido em mim mesmo, muito fechado no meu canto e o que mais quero é que me deixem em paz. Este meu lado de eremita, muito egoísta, é muito constante e persistente. Basta que eu esteja um pouco cansado ou chateado coma  vida para que baixe a guarda sobre mim próprio e ele toma conta da situação. Nestas alturas tudo em mim é mau, e não raras vezes os que me amam dizem-me que estou irreconhecível. Nessas alturas, alertado justamente por aqueles a quem não quero desiludir, apercebo-me do meu estado de espírito e entro em ação. E dou lugar a um outro eu, que escolhe sorrir e cantar e colocar-se à margem para que os outros possam ter espaço dentro de mim. Nas minhas catequeses - formais ou informa
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Hoje voltei à minha caminhada matinal. Sozinho, sem música, sem rádio, sem outra coisa que não o amanhecer gelado, o sol que desponta e embeleza o já belo mar, o choro das gaivotas e a suave companhia do barulho das ondas a embater nas rochas. As condições ideais para começar uma semana que, como as antecedentes, se apresenta com um ritmo complicado. No meu espírito, Taizé já tomou as rédeas do futuro. Enquanto caminho não estou já na Foz mas lá, com aqueles com quem gosto de estar nestas coisas, partilhando o que adoro partilhar nestas alturas, vivendo o que recordo mais tarde ter vivido tão intensamente na serenidade do encontro. Por fora digo-me que não sei ainda se vou, cá por dentro rezo a todos os santinhos para que não consiga encontrar desculpas para não ir. Não preciso delas, em boa verdade. Taizé é o meu lugar e voltarei a ele sempre que proporcionar. Mas nesta altura não sei se é o melhor para aqueles que comigo vivem, e essa é sempre uma decisão dolorosa. No entanto, com
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Acabei de receber a notícia que uma amiga está grávida. E não o queria. De todo! E o marido também não. De todo! E disse-lhe que a culpa era dela. Como se, em tudo o que acontece numa relação, a culpa pudesse ser apenas de um só. Estúpido! Não há outra palavra. Estúpido! Ela, que tem uma idade em que ter um bebé já acarreta riscos superiores ao normal, teve que ir fazer a amniocentese sozinha. Estúpido! E parece que as coisas não correram muito bem. Estúpido! é a prova provada que o tremendo sucesso profissional, o desafogo financeiro, a inteligência operativa, pode acontecer mesmo entre a mais estúpida das pessoas. Estou mesmo irritado. Não entendo como é que alguém pode ser tamanha bota da tropa. Ainda por cima quando tem uma boa casa, uma boa profissão, condições de vida muito acima da maioria de nós e no entanto consegue ter uma atitude deste tipo que, aliás, soma a muitas outras que vai tendo. Não entendo como não se consegue dar graças por uma nova vida, qualquer que seja a c
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É recorrente, em mim. Cíclico até, diria. Volta e meia apetece-me desaparecer, acizentar-me, passar despercebido, refugiar-me na minha insignificância para poder dizer, escrever, fazer, o que quiser, sem que ninguém disso me possa pedir responsabilidades. E isso, hoje, é muito fácil de fazer: abre-se um qualquer email, um qualquer blogue, e envia-se uma série de patacoadas sem deixar rasto. Nem sequer para mim próprio, que me esqueço poucos dias depois. Um pouco como a speaker's corner, em pleno Hyde Park, mas muito mais cobarde, porque ninguém sabe de onde vem aquilo tudo, mas também, em abono da verdade, muito mais insignificante, porque o que ali é escrito fica depositado algures nessa coisa inexistente que é o arquivo morto da internet. Andava eu nestas andanças típicas de férias quando estalou aquela aberração de Paris. E todos vimos lá em casa, todos discutimos o que aconteceu, todos demos a nossa opinião e a nossa visão dos acontecimentos, nem sempre coincidentes, como a