Ontem fui a um museu. Em Fátima. Ao qual espero não voltar. E ao qual espero que os meus filhos não vão, O que é esquisito, confesso.
Este museu estava carregado daquelas coisas da Igreja que eu preferia que a minha Igreja não tivesse. Mantos e coroas, ouro e diamantes, bordados caríssimos, cálices de prata, tudo aquilo que não nos acrescenta coisa alguma, antes tira, dando razão a todos quantos não percebem como somos capazes de pregar tão no vazio. Eu sei bem que muitas daquelas coisas foram oferecidas, mas é justamente isso o que me causa confusão. Que um padre, bispo ou um papa sinta qualquer necessidade de ter um cálice de prata ou que, como já um deles me disse, o compre para justificar una qualquer necessidade de dignidade. Disseram-me já que os paramentos têm que conferir dignidade, assim como o cálice a patena, mas não me conseguiram explicar porque um cálice de prata é mais digno que o cálice do filho do carpinteiro.
Da primeira vez que cheguei a Santiago depois de fazer o caminho era Domingo de Ramos e às tantas vejo a chegar uma multidão a cantar e com ramos na mão. À frente dela ia creio que o bispo e precedia-o umas palmas amarelas, que, se não eram, pelo menos simbolizavam o ouro. Pensei logo no acolhimento que foi feito a Jesus, no jumento e na multidão, e no que se seguiu. Tive a clara noção, naquela altura, que se o que viesse a seguir àquele domingo de manhã fosse semelhante ao que aconteceu há dois mil anos, não haveria ouro ou prata que convencesse quem quer que seja a liderar aquela multidão. Mas também quis pensar que, provavelmente, aquele mesmo bispo a lideraria, como tantos o fazem, todos os dias, sem que seja preciso ouro ou prata. Então, porquê todo aquele aparato? Porque teimamos nós dar contra testemunho e não temos a coragem de nos voltarmos ao essencial? Porque continuamos nós a ser tão bons a dar razões para não acreditar?
Espero mesmo que os meus filhos não cheguem a visitar aquele museu. Porque, se o fizerem, lá terei eu que tentar defender o indefensável.

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