Volta e meia, quando nada o faz suspeitar, vem o já habitual banho de água fria. Normalmente reajo bem, consigo olhar para além de, sacudo a água e preparo-me para  o que aí vem. É nas alturas em que estou mais descontraído, mais confiante, menos atento, que estes baldes mais me custam a encaixar.
E o baque tem custos.
Refugio-me em mim, fecho-me, não partilho, até descobrir como hei de encarar o futuro com aquela alteração das circunstâncias. Calculo que serão estes os momentos mais difíceis para quem vive comigo. Não é uma questão de falta de confiança, ou falta de amor, ou qualquer coisa deste género. É mesmo uma tremenda dificuldade em dividir o que é menos bom,  ver nos olhos que me são importantes qualquer tipo de dor infligida por mim, e ter a terrível sensação que sou um peso.
Partilho com muita facilidade a alegria e os momentos bons. Não sei, aliás, vivê-los sem os gritar em plenos pulmões, sem tentar contagiar os que me rodeiam. É algo que encontra o seu paralelo no que gosto de dizer às pessoas. Adoro dizer bem delas, se possível olhos nos olhos, e nunca o faço sem o sentir profundamente. Em sentido contrário, tenho muita dificuldade em criticar alguém e frequentemente remeto-me ao silêncio, dou tempo a que a vida e as circunstâncias me desmintam, ainda que, por vezes, com custos pessoais.
Não é justo, eu sei. Mas quem me conhece bem sabe que dificilmente pode esperar de mim que eu seja justo. Sempre preferi amar.

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