Mensagens

A mostrar mensagens de setembro, 2013
Imagem
Uma das minhas características que tradicionalmente mais problemas me trazem é a forma como eu discuto as minhas ideias. Facilmente me deixo envolver pelo calor da discussão e, diz quem me ouve, que o meu tom de voz por vezes se torna demasiado agressivo. Raramente tenho outra intenção que não seja discutir as ideias pelas ideias. Gosto muito do calor de uma boa refrega, gosto muito de quem tem a capacidade de me colocar em causa - o que, em alguns assuntos, não é fácil - e, invariavelmente, respeito quem tem a capacidade de argumentar racionalmente os seus pontos de vista, por muito díspares que sejam dos meus. Como já referi por aqui algumas vezes, o que não posso é com o encolher de ombros, o tanto se me dá, que se vai tornando cada vez mais normal. Ontem, dia de eleições, só podia dar discussão política lá em casa. Calorosa, como qualquer discussão. No final, disse à minha filha que gosta de politica como eu, que tenho um imenso orgulho quando confirmo que os meus filhos têm c
Imagem
Com a inauguração do novo Espaço, veio a já esperada onda de velhinhos. Para já apenas chegam, ávidos de conversa e de atenção, com um enorme sorriso, apreciam o espaço e inscrevem-se, cheios de vontade de voltar. Apesar de gostarmos muito de os acolher, para nós, tudo isto está, neste momento, repleto de incógnitas. Não estamos habituados a trabalhar com pessoas destas idade, e quando o objectivo é que permaneçam algumas horas junto de nós, muitas questões se levantam. A primeira chegou justamente com o primeiro velhinho, que, visivelmente debilitado, vinha numa cadeira de rodas. Calculamos logo que seja preciso acompanhá-lo quase permanentemente, nas idas à casa de banho, nos lanches, nas conversas. É bem diferente de lidarmos com os miúdos irrequietos e vivaços, que transbordam energia e vida, e que nos têm preenchido os dias. Por isso iremos tentar apostar no intercâmbio entre ambos, em criar oportunidades para a troca de experiências, de convívio comum, que tão arredado anda da
Imagem
Acontece-me isto, por vezes: olho, olho e não vejo nada. Na semana passada deparei-me com esta frase e não a percebi. Não podia, de facto, tal era a correria em que estava metido. Reuniões em cima de reuniões, preparações em cima de preparações, e eu passo, de repente, a estar em "modo trabalho". Fico completamente focado no imenso que tenho que fazer, no imenso que tenho que preparar, na ânsia que não falte nada, que não escape nada, para que depois, quando a altura chegar, possa usufruir. Não é mau que assim aconteça, pelo contrário. A questão, no entanto, é que nessas alturas tudo o que não é trabalho me passa quase completamente ao lado. Quando chego a casa lá vou conseguindo alguma disponibilidade para os que amo, mas  nem sempre a cabeça está lá. Nem mesmo quando durmo! Houve um tempo na minha vida em que eu funcionava em "modo trabalho" vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, trezentos e sessenta e cinco dias por ano. Não conseguia nunca
Imagem
O medo de ser feliz faz-me muita confusão. Aquela coisa de "estou muito bem, alguma coisa está para me acontecer" que impede as pessoas de saborear o momento, de sentir verdadeiramente, abertamente, sem medos ou reservas, como se tivessem medo de subir muito alto só para não caírem. Todas as pessoas que conheço que têm esta tendência são muito mais lestas em sentido contrário, exacerbando o negro como se nunca tivessem visto luz, quase como se encontrassem nessa escuridão o sentido para os seus males. E o pior é que vivem tão à espera que algo mal aconteça que quando acontece - e acontece sempre a todos nós - dizem, cheios de razão: "Vês? Eu não te dizia? Tu nunca vês a realidade!" Há pouco tempo, num extraordinário encontro de formação, uma das nossas irmãs disse-nos que, durante o seu processo de discernimento, lhe foi pedido para escolher a passagem bíblica que definiria a sua vida. De seguida, deu um breve tempo a cada um dos presentes para pensar qual seri
Imagem
Grande noite, a de ontem, com a confirmação que temos mais dois filhos na Faculdade. E nos cursos que foram a primeira opção de cada um, o que é muito importante! Claro que as coisas se vão complicar um pouco mais cá em casa. Ter 4 filhos na faculdade não é propriamente fácil, mas, como sempre, há que manter a cabeça fria, respirar fundo, e dar Graças por cada dia que passa. E se alguém tem motivos para dar Graças, somos nós. Muitas vezes olhamos para os nossos filhos completamente embevecidos. Há alturas em que não é fácil: todos somos de mergulhar de cabeça nos muitos projectos em que nos envolvemos, todos sofremos da mesma falta de tempo disponível, todos partilhamos a mesma dificuldade de viver as coisas pela metade, de discutirmos pela metade, de nos divertirmos pela metade. Cá em casa tudo é sempre muito tudo: muita música, muita diversão, muita discussão, muita alegria ou muita tristeza. Normalmente não há espaço ou sequer vontade de encolher ombros ou de viver alheados ao
Imagem
Uma das coisas que mais problemas me tem causado é o facto de não ser anti-nada. Normalmente não falta quem me exija a mesma radicallidade que sentem. Tanto de um lado como do outro das contendas em que algumas vezes me meto, nunca vêem com bons olhos a minha queda natural para ver o outro lado da questão, o papel de advogado do diabo que, quase sempre involuntariamente, me vejo a desempenhar. Daí à acusação de falta de personalidade é um pequenino passo, que é, aliás, muitas vezes dado. Por muito tempo isso incomodou-me bastante, até que me fui apercebendo que me incomodava ainda mais a minha infiidelidade a mim próprio, que por vezes levava a que fosse artificialmente radical apenas para me poupar. Como não há regra sem excepção, a única radicalidade que me é visceral desde que me conheço é a do aborto. Mesmo nas mais duras e longas batalhas que tive na altura da discussão da lei - umas olhos nos olhos, outras nos vários fóruns da internet - nunca me conseguiram dar um argumento
Imagem
Recebi uma sms: "Pai, disseram-me que aquele teu amigo que consumia está no hospital. E está mal." Lembro-me de um retiro há uns largos anos em que ficamos no mesmo quarto. De manhã bem cedo, acordei com a sua tosse. Levantei-me e lá estava ele, no corredor, de cigarro na mão e janela aberta a deixar entrar o ar gelado. "Desculpa. Tive que vir dar de mamar aos queixos." Rimo-nos como sempre nos rimos juntos, porque nos sentíamos bem juntos.. Durante uns tempos vimo-nos muitas vezes. Ele tinha regressado de Espanha, onde quase se tinha acabado de perder, recuperara a custo, arranjara emprego, e participava nos nossos encontros. "Se na altura soubesse que havia disto nunca me teria metido nesta merda". Era bem mais velho que nós mas todos o acolhíamos com agrado no nosso seio. Era também uma conquista nossa, em parte uma mascote, e exercia em muitos dos mais novos o fascínio do filho pródigo. Contava-nos as histórias espanholas das suas descidas aos inf
Imagem
Desde muito novo que estou habituado a lidar com o que eu chamo opinadores de sofá. E confesso que as suas opiniões não me merecem um respeito especial. A última opinadora foi justamente uma da minhas filhas. Na minha paróquia temos uma coisa que se chama "Mesa de São Pedro" onde, todos os dias, várias equipas se vão revezando para que algumas das pessoas mais carenciadas possam ter algo que comer. Assim, todos os dias, ao jantar, é servida pelo menos uma sopa quente a quem, em princípio, mais precisa. Alguns de nós - os que querem - lá de casa, estamos ao serviço de 15 em 15 dias. Numa dessas noites, em que, necessariamente, chegamos mais tarde para jantar, a Mesa de São Pedro foi tema de conversa e uma das minhas filhas disse que não ia porque não concorda com aquilo, porque estávamos a perpetuar a miséria, porque nos limitávamos a matar a fome, porque aparecia lá gente que afinal não precisaria tanto como isso, porque... porque... porque... Depois de argumentarmos mut
Imagem
Disseram-me ontem, ao final da tarde, que afinal os tinha enganado. Que afinal também eu estava a caminho, lá, no meio deles. Não o meu corpo, que esse estava em casa a essa hora, mas o meu corpo é apenas uma pequena parte do que sou. No final das férias tive mais uma infeliz notícia da morte de mais uma amiga do nosso velhinho e saudoso grupo de jovens. Cancro, mais uma vez. Juntamo-nos, uma vez mais, no seu velório e, como sempre, reatamos as conversas que ficaram suspensas algures no tempo, conversando como se nunca nos tivéssemos separado. Os que pudemos, cantamos no seu funeral. Bastou um curtíssimo ensaio para sabermos e recordarmos o que iríamos cantar e fizemo-lo de forma profundamente identificada e sentida. Ao olhar para a igreja a abarrotar de amigos seus, pensei como, apesar de tudo, seria bom morrer assim. Na vida não temo muitas coisas. E a esmagadora maioria das que temo estão muito mais ligadas àqueles que amo que propriamente a mim. Mas temo a solidão. Não a sol
Imagem
Uma destas noites, enquanto nos despedíamos, em família, das férias com uma caminhadazita na Foz, um dos sítios preferidos do nosso mundo, conversávamos como foi importante este tempo de reencontro. Deu para parar, para namorar, para fazermos coisas juntos e separados, para recarregarmos baterias, colocar o trabalho em ordem, para passearmos e conhecermos coisas novas. Um tempo muito bom e muito importante para nos reencontrarmos uns nos outros. A minha mais-que.tudo passou uma parte substancial do tempo a tentar organizar a imensidão de fotos que estava espalhada por imensos álbuns, gavetas, livros e prateleiras. Durante mais de uma semana a nossa mesa da sala esteve impraticável tal era a profusão de fotos de passeios, aniversários, baptizados e comunhões. Como tudo o que se passa em família se passa em nossa casa, e ainda por cima somos muitos, temos um manancial de recordações verdadeiramente encantador e invejável. Eu normalmente não ligo muito a fotos nem a este tipo de re