Apesar da tentação, raramente caí no erro de enfiar os meus filhos numa redoma. Particularmente naquele período das suas vidas - breve, claro! - em que eles viam os seus pais como super heróis, como seres especiais (espaciais?) que nunca se enganam e raramente têm dúvidas e tudo fazem bem feito. Mais tarde, quando as coisas azedavam, perguntava-me muitas vezes se não faria melhor em esconder as falhas, em fingir que estava tudo bem, temendo sobrecarregá-los com questões que duvidava que eles estivessem preparados para entender. Numa altura em que azedaram mesmo, cometi esse erro. Antes de entrar em casa, vestia o sorriso, fingia que estava tudo e escondia-lhes tudo. A questão é que não se pode varrer para debaixo do tapete durante muito tempo e, como sempre, chegou a altura de sentarmos e conversarmos olhos nos olhos. E, como sempre, fui surpreendido pelo sua enorme capacidade de enfrentar a vida tal como ela é.
Não acredito que os pais e os filhos devam ser os melhores amigos. Não acredito que uns e outros devam contar tudo o que acontece nas suas vidas, com todos os pormenores, como fazemos uns e outros com os nossos amigos. Acredito sim em portas abertas, em vias de comunicação nunca fechadas, que façam sentir que qualquer que seja a questão, amamo-nos o suficiente para podermos lidar com as falhas e as fraquezas de uns e de outros, quaisquer que elas sejam. Acredito muito em olhos que querem ver, particularmente em olhos que sabem ver o que não quer ser visto, mas que sabem esperar a altura certa para conversar, sem atrapalhar o que cada um tem que resolver por si próprio. Por vezes basta um "estás bem?" que seja tudo menos circunstancial para que percebamos que estamos ali para o que der e vier. Uns e outros sabemos que não somos perfeitos. Mas uns e outros sabemos que todos os dias tentamos sê-lo. Às vezes, corre bem. Noutras, nem por isso. É também para isso que estamos lá.

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