Recordei-me imediatamente do que lhe tinha dito - e a outros que estavam connosco - naquela sereníssima capela de Santiago, aberta apenas para nós: "quando ouvirem alguém dizer que a juventude está perdida, olhem-lhe para os pés, e verificarão que não tem calçadas as botas de caminhar mas sapatos lustrosos ou pantufas. Se tivessem as botas calçadas, e gastas, e sujas, como nós temos, teriam caminhado convosco e admirar-vos-iam. Como nós vos admiramos."

A recordação veio com um desabafo seu enquanto entrávamos na Basílica de São Pedro, no Vaticano: "É esquisito, Zé, mas para mim sinto muito mais Igreja em Taizé que aqui. Isto é turismo." Sorrimos ambos porque nos caminhamos há tempo suficiente para percebermos que estávamos em plena sintonia.

Este rol de alunos já me deixa saudade e o ano ainda não terminou. Foi com eles que consolidamos muitas das caminhadas que iniciáramos no ano anterior ao da sua participação em bloco. Foram eles que deram um impulso decisivo ao ComTigo com a sua presença, a sua alegria, a sua determinação; foram eles que deram um outro cariz aos caminhos de Santiago, com a sua disponibilidade para mesclar caminho e oração: foi com eles que fui a Taizé, que fui ao Rumos, que passei fins de semana, que cantei nas intermináveis viagens de camioneta que fizemos juntos, foi até com eles que passei as noites do 24 horas e da Via Sacra, que fui à viagem de finalistas. Muitos deles tratam-me por Zé, apenas por Zé, e não por professor - que eu detesto, aliás, "eu não sou professor"- sem que daí algumas vez tenha vindo a mínima falta de respeito, mas antes  o reconhecimento de uma caminhada que foi sendo feita num clima de permanente construção, de mútua entrega e constante descoberta.

É um privilégio enorme poder viver uma vida assim, com pessoas assim, numa troca constante de experiências de vida, permitindo-nos aprender uns com os outros. Depois de tantos anos à procura, depois de tanto tempo, não diria que perdido porque tudo o que fiz e fui sendo contribuiu para quem sou hoje, mas à toa, sem saber muito bem ao que vim, poder ter uma vida assim, cheia, em caminho permanente, em construção permanente, é um verdadeiro luxo. Que, espero, se prolongue por muito tempo!


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