Há uma canção que é mais ou menos assim: "eu gosto de ser uma vaca, uma vaca..." Hoje, enquanto caminhava, pensava que sou ruminante. Como uma vaca.

É já um clássico. Chego a casa e perguntam-me como é que foi e pedem-me para contar pormenores e ficam desiludidos. Nunca consigo senão balbuciar meia dúzia de lugares comuns e ficam todos com a sensação que nada de importante se terá passado. Ou então que não quero contar. Por mais que eu tente explicar que comigo as coisas não funcionam assim, que preciso de tempo para digerir, nunca acreditam.

Eclesiastes 3, 1. Comecei desta forma muitos Dias de Reflexão: "Neste mundo, tudo tem a sua hora; cada coisa tem o seu tempo próprio."

Eu preciso do meu tempo para digerir o que de importante me vai acontecendo. E quanto mais importante, quanto mais intenso, quanto mais profundo, de mais tempo eu preciso. Também porque na altura dos acontecimentos deixo-me simplesmente ir. Vou sentindo, vou fruindo, vou permitindo que o coração tome conta das operações sem me preocupar muito em filtrar o que deve ser ou o que não deve ser, o que fica bem ou fica mal, nem as consequências que daí possam advir. Claro que muitas vezes, quando olho para trás, gostaria de não ter dito, ou não ter feito, percebo tarde que fui mal interpretado, com tudo aquilo que ser mal interpretado acarreta e com toda as figuras ridículas que fazem parte do meu historial. Mas são muitas mais as vezes em que me descubro melhor justamente quando me deixo ir, quando confio que quem está comigo tem a mesma abertura de coração que eu. E na esmagadora maioria das vezes tem.

Como passo pelas coisas sentindo-as intensamente e racionalizado-as escassamente, esse processo é feito depois, muito lentamente, durante muito tempo, normalmente enquanto caminho, de manhãzinha, sozinho. Revejo pessoas, relembro conversas, revalorizo sentimentos e partilhas e descobertas e, de alguma forma, volto a estar lá, voltamos a estar lá, ainda que por breves momentos. E esta é uma excelente forma de começar os meus dias. Caminhando, com aqueles de quem gosto, com aqueles que me são queridos e importantes, com aqueles que, de alguma forma, habitam cá por dentro, e me ajudam, todas as manhãs, de todos os dias, na minha oração de louvor a um Deus que me proporciona encontros com pessoas que me dão tanto! Dar Graças pelos amigos é uma excelente forma de começar o dia!

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