Tivemos um fim de semana quase sem filhos. Quando chegamos a casa, na sexta feira, já eles tinham saído para um retiro e só os tivemos de volta ontem, depois do jantar. Quase sem filhos é uma forma de dizer, porque foram três mas ficaram ainda dois. Mas no almoço de domingo éramos apenas nove à mesa, o que suscitou queixas de uma das tias: "somos tão pouquinhos, hoje!"

A única coisa boa de termos filhos fora de casa é que temos menos louça para lavar. Fora isso, não há vantagem nenhuma. Mesmo o sossego, tão desejado por nós em tantas alturas, chega a uma altura em que é demais, e ao fim de algum tempo olhamos um para o outro com a sensação que não passamos de dois gatos pingados órfãos de filhos. Confesso que a mim não me assusta nada o síndrome do ninho vazio. Apesar de gostar muito de estar com os meus filhos, de adorar a azáfama e a confusão das refeições, de me deliciar completamente quando pegam numa guitarra e começam a cantar, sei, sempre soube, que não são meus. São as minhas sementes no mundo, mas não são meus. E vejo sempre com bons olhos os seus desejos de partida, de conquista, de diversão, de utonomia. Fico orgulhoso com coisas simples como quando planearam a sua ida a Londres por alguns dias, ou a peregrinação a Taizé no verão passado, sem precisarem das muletas dos pais, sabendo, no entanto, que estávamos, como estamos sempre, para o que quisessem.

Há pouco tempo, tentava explicar que o maior orgulho de um educador - pai, catequista, professor... - é que o seu educando conquiste a sua autonomia. Que deixe de precisar de si, dos seus conselhos, da sua pretensa sabedoria, e seja capaz de fazer as suas próprias escolhas e trilhar o seu próprio caminho. Acredito que educar no e por amor é isso mesmo: semear para que possam ser outros a colher. No entanto, esta questão da posse dos "nossos meninos" - sejam eles filhos, alunos ou amigos - é sempre complicada. Nunca os deixo ir sem algum sofrimento, sem alguma sensação de perda profunda, sem alguma luta interior onde acabo por me impor deixá-los ir, sem qualquer manifestação exterior. Por vezes isso confunde-os e pensam que eu desliguei facilmente mas, invariavelmente, quando regressam para me visitar, vêm a alegria que sinto e finalmente percebem.

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