Este blogue vai entrar de ferias. Curtas, espero. Não que eu vá de férias, ainda, mas vou em trabalho para lugares onde não poderei escrever no blogue. E isso é bom! Ultimamente tenho escrito a um ritmo quase diário, o que não é comum em mim. Acontece-me apenas depois de uma experiência forte de partilhas, de intimidades, de descobertas, que necessitam ser processadas cá por dentro, o que apenas consigo em condições quando essas partilhas, intimidades e descobertas são traduzidas em palavras. Acontece-me muitas vezes estar na cama às voltas com dezenas de coisas na cabeça e levantar-me, escrevê-las e sossegar apenas depois disso. Muitas vezes! As minhas reflexões não são uma maneira bonita de enunciar acontecimentos ou sentimentos, são uma necessidade. Minha. De me desconstruir, de me construir, de saber que chão piso, que horizontes ainda tenho, de me ir mantendo atento e afinando estratégias, redefinindo rumos, reprogramando sonhos e objectivos. São uma forma de não me perder, em suma.
Nestes últimos tempos apercebi-me que muitas pessoas me lêem. Muitas mais que aquelas que alguma vez pensei ser possível. Francamente, não sei se isso é bom ou não. Diria que é bom se eu não me puser a armar aos cágados. Ainda ontem, numa deliciosa conversa com o Fredo - de quem todos os dias aprendo algo! - a propósito da Academia Ubuntu, disse-lhe que não tenho grande dificuldade em partilhar a minha história de vida. Não é uma questão de orgulho ou de falta dele. É uma questão de escolher viver sem nada na manga, sem segundas intenções, assumindo olhos nos olhos as minhas limitações, tentando descortinar as minhas capacidades e como posso atenuar umas e desenvolver outras. É uma questão de ajustar expectativas e, fundamentalmente, de tentar viver sem medos, porque aprendi que a verdadeira liberdade acontece quando me permito ser o que realmente sou. Sem histórias, sem joguinhos, sem optimismos exagerados, de pés assentes na terra e olhos postos no céu.
Claro que há uma reserva pessoal, necessária, fundamental, até porque não me envolve apenas a mim. Mas aprendi há muito tempo que não consigo falar de Deus, ou da fé, ou da vida, ou do que quer que seja, sem falar de mim e dos meus, dessa imensidão de meus que são os meus filhos os meus pais os meus irmãos os meus amigos os meus conhecidos os meus desconhecidos. A minha fé não é auto-referencial, nem a minha vida, nem as minhas preocupações, mas tudo isto é muito feito a partir da desconstrução do que vou sentindo e observando e reflectindo e caminhando. Eu não sou a medida de coisa nenhuma mas são as minhas reflexões feitas a partir das minhas dúvidas, das minhas experiências, boas ou más, das minhas quedas e recuperações, que vão impulsionando a descoberta de um Deus, que sendo de todos, é também muito pessoal porque me tem, a mim também, no centro das suas preocupações. E essa certeza é muito reconfortante!
Volta e meia apetece-me parar de escrever no blogue. Já aconteceu antes, algumas vezes, com outros blogues. Acontece normalmente quando leio algo que de gosto muito - como me aconteceu muito recentemente! - e tenho a certeza que nunca o conseguirei fazer daquela forma. Mas depois recordo-me que é para mim, apenas para mim, que escrevo. Desde sempre. Desde muito miúdo que tive diários e cadernos e folhas soltas que pudessem registar as minhas preocupações e dúvidas e angústias e ajudar-me a encontrar o caminho. É para mim, que escrevo. O que vem a seguir é apenas consequência.
De não querer procurar sozinho.
De não saber caminhar sozinho.

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