Não é estranho que nos digam que «ser homem é muitas vezes uma experiência de frustração». Mas não é essa toda a verdade. Apesar de todos os fracassos e frustrações, o homem volta a recompor-se, volta a esperar, volta a por-se em marcha em direcção a algo. Há no ser humano algo que o chama uma e outra vez à vida e à esperança. Há sempre uma estrela que volta a acender.
https://www.gruposdejesus.com/epifania-do-senhor-c-mateus-21-12-3/
É tão inevitável como a passagem do ano: chegado a esta altura, faço listagens e propósitos e compromissos, porque desta vez é que é. Cheio de certezas, registo tudo: estados de alma, condição física, horários de sono, contas… para que de hoje a um ano possa ver, ufano, o extraordinário progresso que fiz a nível pessoal, familiar e profissional. 2025 vai ser espetacular! Pego no excel, abro uma tabela nova, cheia de cálculos e esquemas , com horários, ajustando tudo ao nível do sonho. Claro que na segunda feira, mergulhado no que não consegui prever, tendo que me ajustar à vida vivida, já esqueci completamente o que tinha programado. Mas não importa, lá para finais de julho, em pleno tempo de férias, faço o balanço do ano letivo e preparo o próximo com novas tabelas, novos esquemas, porque aí é que vai ser.
Muda alguma coisa? Claro que sim. É como estar aqui a escrever. Fazer as tabelas, programar, escrever, é trazer cá para fora o que está dentro. E precisa de ser escrito, mesmo, porque senão fica uma nuvem cinzenta a pairar em cima da cabeça, onde tudo se mistura e nada se clarifica. E é muito importante para mim trazer essas coisas cá para fora. É muito importante o processo de recordar e avaliar o que aconteceu para que possa servir de impulso para o que gostaria que acontecesse. É muito importante para mim este parar, olhar, apreciar, saborear, para poder ajustar processos e caminhos, reorientar destinos e poder avançar um pouco melhor. Sim, por vezes os avanços não são significativos; sim os recuos são imensos e desanimadores; sim, isso tudo. Mas quando olho para trás vejo um rumo. Nem sempre cumprido, nem sempre linear, nem sempre progressivo, mas um rumo, isto é: um ponto de partida e um destino, que nós não somos de chegadas - eu, pelo menos, não sou.
O único cuidado que tenho de ter é libertar-me da culpa do não cumprido. É não esquecer que uma projeção é apenas uma projeção, não é uma fatalidade. E eu nisso sou muito português, sou muito fadista, tendo a procurar motivos para não ter cumprido e, invariavelmente, tropeço nas minhas enormes insuficiências. Portanto, não me posso esquecer: as listagens que este ano fiz e tenho diante de mim são apenas isso: listagens, rumos traçados, agulhas que apontam o caminho. Mas o que importa, mesmo, o que torna uma vida bem ou mal vivida, é o caminho. E esse é para se saborear. Passo a passo. Momento a momento. Intensamente. As coisas boas e as coisas más. Gargalhar quando é de rir; Chorar baba e ranho quando é de sofrer. A cada momento o seu momento. Inteiro. Intenso. Haverá tempo para ajustar o rumo.
Hoje termina 2024. Bambora!
Um excelente 2025 para todos!
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