Dizer que tenho saudades de Taizé é uma parvoíce. Basta-me parar, durante algum tempo, para sentir as saudades daquele silêncio, daquele encontro. Aliás, é provável que a minha saudade seja outra. Talvez eu tenha saudade do que sou em Taizé. Do que somos em Taizé. Talvez eu tenha saudade da simplicidade do olhar, da simplicidade dos sentimentos, da simplicidade dos relacionamentos. Talvez eu tenha saudade da forma como nos apresentamos, uns perante os outros, da forma como nos fomos despojando, lentamente, ao longo de vários dias, do que nos separa, do que nos limita, e nos fomos entregando, lentamente, ao longo de vários dias, quase sem reservas. Talvez eu tenha saudade dos olhares, do percurso dos olhares, do respeito dos olhares, do encontro dos olhares, francos, abertos, leais, por vezes pejados de lágrimas, por vezes animados pelos sorrisos, e pelas gargalhadas, mas sempre, sempre. carregados de vida. Talvez eu tenha saudade da forma como conseguimos articular o eu com o nós, do tempo que tivemos para o nosso próprio e íntimo encontro, do tempo que tivemos para o nosso mútuo e íntimo encontro, do tempo que tivemos para as conversas, para as partilhas, para as palavras, para a ausência de palavras, porque desnecessárias. Talvez eu tenha saudades de conhecer como conheci, de aprender como aprendi, de crescer como cresci, na melhor forma de conhecer, aprender e crescer que é ouvindo os outros, escutando os outros, bebendo dos outros a sua sabedoria, a sua forma de vida, a sua experiência tornada sabedoria, e partilhando a minha vida, e descobrindo que também ela pode albergar alguma centelha de sabedoria para os outros. Talvez eu tenha saudades do nós, da simplicidade do nós, da descomplexidade do nós, cuja existência se sobrepõe com naturalidade à mera soma dos eus e é terra de cultivo, que aramos juntos, que semeamos juntos, que regamos juntos, que vimos crescer juntos e juntos colhemos. E colheremos ainda!

Sei - sabemos todos - que a vida é aqui que acontece. Todos os dias. A todas as horas. A todo o momento.

Mas tenho saudades de nós em Taizé.

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