Amanhã estaremos de serviço. Todos. Eu e os meus filhos no compasso, a minha-mais-que-tudo e a Rita a preparar a paparoca para os que vão ao compasso, que nem só de pão vive o homem, mas também. Ainda ontem, na adoração da cruz, estávamos lá todos, e logo, na Missa de Aleluia, estaremos todos. Sem ser necessário dizer-lhes para ir. Eles sabem que devem ir. Eles sabem que é importante ir. Eles sentem que o lugar deles é também lá, no meio da comunidade, em oração.

Não escondo que é motivo de orgulho. Todos os meus filhos são cidadãos comprometidos com o outro, todos eles estão envolvidos em actividades de serviço, todos eles sabem o que é abdicar de si em favor de alguém. Esse modo de vida nunca lhes foi exigido, nem sequer imposto. Claro que, em determinadas fases das suas vidas, tivemos que nos sentar e conversar e alertar que somos mais que apenas nós. Nada que eles não soubessem, nada que eles não tivessem vivido desde miúdos com as Colónias, com o Livramento, com Ramalde. No entanto, todos conhecemos famílias cujos pais são empenhados, que valorizam tanto quanto nós o serviço ao outro, e no entanto os filhos escolhem outra via. Por muito que nós, pais, nos esforcemos, a partir de determinada altura não depende de nós os caminhos que os nossos filhos escolhem percorrer. E os meus filhos em nada são diferentes dos outros filhos.

O nosso pároco teve e tem na sua educação um papel fundamental. Chegou a uma paróquia que tinha sido destroçada durante anos a fio por um mau pároco. Sobre escombros conseguiu, à custa de muito trabalho, à custa de muito caminho percorrido, à custa de muita entrega, erguer uma nova comunidade, que hoje se encontra tão unida quanto uma comunidade eclesial consegue estar unida, com as tricas típicas de uma comunidade deste tipo. E os meus filhos encontraram nesta comunidade o lugar para serem eles próprios, para serem motores, para serem testemunho. Todos estão envolvidos na paróquia, seja no grupo de jovens, seja no Fé e Luz, nos escuteiros, na catequese, no coro... Estou plenamente convencido que o meu pároco teve - tem - um papel fundamental na educação cristã dos meus filhos. Não tivessem eles encontrado alguém - que não nós - que confiasse neles, em quem eles confiassem, que os guiasse na vivência da fé em comunidade, e todos os nossos esforços teriam sido pouco menos que inglórios.

Há uns anos, uma das minhas discussões - que depois larguei - era a da minha responsabilidade enquanto cristão. Sempre defendi que, em matéria de evangelização, a minha responsabilidade é tão grande quanto a do Papa. E isso sempre chocou as pessoas. E eu explicava: para os meus filhos, para aqueles com quem fazia catequese, para os meus jovens, o que eu dizia tinha muito mais peso que aquilo que o Papa dizia, e o meu testemunho de cristão tinha neles uma repercussão muito maior. Nunca entenderam o que eu defendia - pensavam que eu me punha em bicos de pés - e acabei por largar esta discussão. No entanto, hoje tenho cada vez mais certeza que é por aí. O papel do meu pároco na educação cristã dos meus filhos é muito maior que o do Papa. Um bom pároco é fundamental na Igreja. Tanto quanto um bom bispo. Tanto quanto um bom Papa. Tanto quanto cada um de nós. A Igreja é feita de pessoas. Que se deixam contagiar, que se deixam envolver, que se sentem cativados por um Deus que nos mexe por dentro, que nos molda, que nos trabalha, que nos faz desejar sermos melhores. E tudo isto é muito olhos nos olhos, é muito terra firme, é muito pés no chão, muito sentimento de comunidade, que não estamos sós, que não vivemos sós mas que, em Cristo, somos parte de algo muito maior que cada um de nós. E por isso cada um de nós tem um papel muito importante a desempenhar.

Não somos contagiados por títulos. Somos contagiados por vidas. Vividas. Por testemunhos de vidas. Vividas. Por isso todos somos responsáveis. Em igual medida. A das nossas vidas. Vividas.

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