A propósito do Tedx Porto, tem bailado cá por dentro uma pergunta: afinal, qual será a minha Main Thing? Não sei se o consigo definir. Desde que me conheço que não parei ainda de procurar. Nem acho que alguma vez isso irá acontecer, para ser verdadeiro. Talvez a minha Main Thing seja mesmo a inquietação, que me impede de estar parado e quieto, que me catapulta para outras coisas, para tentar sentir as coisas sempre novas, ainda que as faça pela enésima vez, que me põe em estado de caminho permanente sem, contudo, deixar de ir apreciando a paisagem.

Este ano comemoramos as nossas Bodas de Prata. Vinte e cinco anos de casamento, trinta de relação, porque assim que pusemos os olhos um no outro apaixonamo-nos e começamos a permitir-nos construirmo-nos mutuamente. Quando pensava na Main Thing e na inquietação que permanentemente me acompanha, perguntava-me como é possível conciliar essa inquietação com uma relação tão longa, tão exclusiva, tão cheia. Afinal, tantos anos juntos pressupõe, aos olhares alheios, quase uma estagnação, quase um acomodamento, quase uma resignação ao que está e ao que deve ser, como se tivéssemos sido condenados em vida, sem qualquer possibilidade de voltar a trás. E isso raras vezes aconteceu. E quando aconteceu, quando nos apercebemos que as coisas estavam de alguma forma a esfriar, a cair no rame-rame do quotidiano, sem qualquer frenesim, um de nós tinha a sabedoria de agitar as águas, às vezes da melhor maneira - um fim de semana a dois, um jantar a dois, uma caminhada a dois ou, quando o tempo escasseia, uma boa conversa a dois - outras vezes de maneira menos ortodoxa - às vezes uma boa discussão (com limites, claro) contribui verdadeiramente para a manutenção de uma relação saudável.

Se esta inquietação permanente - e os filhos, e a nossa vida voltada para fora, e a intensidade com que mergulhamos no trabalho, e a partilha profunda de grandes objectivos e visões de vida - impediu que o nosso casamento adormecesse, por outro lado também trouxe algumas vicissitudes, Levei tempo a perceber que eu não me esgotava enquanto marido e enquanto pai, que tenho outras dimensões que, não sendo tão fundamentais, são muito importantes para o meu equilíbrio e para a forma como me vejo enquanto pessoa, enquanto cristão. E se levei tempo a perceber isso, levei muito tempo a tentar fazer percebe-lo, sem magoar, sem que fossem colocados em causa os alicerces profundos do nosso casamento: verdade, exclusividade, cumplicidade, amor. Também nesta tarefa o tempo corre a nosso favor: com calma, com serenidade, temos conseguido entender que nem sempre estamos juntos quando estamos fisicamente próximos um do outro. Nesta, como noutras pequenas e grandes coisas, estamos ainda em caminho. E isso é bom.

Em boa verdade, não sei se será a inquietação a minha Main Thing. Mas é uma boa questão, uma boa inquietação, e a ela voltarei com toda a certeza.

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