Desenganem-se aqueles que pensam que o tempo se mede em dias
ou em semanas
ou meses e anos

Desenganem-se aqueles que pensam que podemos contar os dias
que podemos alicerçar-nos nessa contagem
que podemos garantir que essa contagem dita a distância
do que nos faz sofrer
de quem nos faz sofrer
de quem nos fez chorar
ou feliz, ou sorrir, ou amar

Desenganem-se aqueles que pensam que a contagem do tempo acalma as feridas
suaviza a saudade
dilui o desejo de voltarmos a estar
de voltarmos a ser
de fazermos sempre de novo
de nos fazermos sempre de novo
de fazermos o sempre novo
esquecido o que foi antes
acreditando no que será depois

Desenganem-se aqueles que pensam que o tempo nos limita o desejo
nos conforma a alma
nos limita o horizonte
nos rouba o sonho e o desejo e a vontade indómita de o alcançar
e ultrapassar
e nos ultrapassarmos com ele

Desenganem-se aqueles que pensam que o tempo tudo cura
tudo resolve
tudo faz passar

O tempo aprofunda
sempre
o que esteve lá
sempre
- ainda que escondido -
- ainda que debaixo do tapete -
à espera que o seu tempo chegasse
à espera que se pudesse cumprir

Desenganem-se aqueles que pensam que o tempo se mede em dias
ou em semanas
ou meses e anos

O tempo
o tempo que conta
mede-se em saudade
do ainda não

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