A melhor coisa que se pode fazer durante um jantar com um mau serviço é aproveitar para ter uma boa conversa. Enquanto esperamos pela longa sucessão de pratos, vamos trocando ideias e opiniões até que, sem que disso nos apercebamos, estamos a partilhar algo mais: um pouco de nós mesmos.

Foi algo parecido que tivemos do passado sábado. A conversa banal e superficial foi dando lugar a uma outra que nos implicava pessoalmente, dando-nos a descobrir mutuamente. Reparei como eu próprio, que me sinto particularmente à vontade quando navego em águas profundas, fui abrindo a porta à medida que encontrava as outras entreabertas.

Sempre achei muito curiosa a maneira como algumas pessoas vão(se) dando na exacta medida em que vão recebendo. Como se receassem tudo o que dizem, como se sentissem que os outros poderiam usar o que dizem para seu proveito próprio. Outras, porém, sendo o centro das atenções na fase das larachas, encolhem-se tremendamente quando a conversa se adensa, recusando-se a partilhar seja o que for sem a presença do seu advogado.

À medida que o tempo vai passando, vou tentando uma outra forma de conversar. Procuro ser menos impositivo, escutar mais, tento deixar maturar mais o que os outros vão dizendo sem me apressar a dar o meu próprio ponto de vista. Não o faço como defesa mas para tentar dar tempo e espaço às suas ideias para se confrontarem com as minhas próprias ideias.

Estou ainda longe, muito longe, de o conseguir.  Mas gosto de acreditar que começo a estar no trilho certo.

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