Por vezes sinto que a palavra chave é cumplicidade. Aparentemente tão simples e efectivamente tão complicada!

Não há nada como sentir que existimos para além de nós próprios. Isso pode-se verificar, ainda agora, em plena campanha eleitoral, na forma como os políticos nos olham nos olhos enquanto nos tentam vender as suas ideias. Tudo em nome de uma certa cumplicidade. Fictícia, claro está. Mas ainda assim...

Eu gosto muito quando consigo ver nos outros mais que apenas os seus olhos. E normalmente não me escondo, também deixo que me perscrutem, também eu baixo as minhas defesas. Acredito que é isso que nos torna uns dos outros, gradualmente, lentamente, permitindo a descoberta mútua, aquela intersecção de vidas que contribui para o reconhecimento do "nós".

Marcou-me muito este ano um dia de reflexão de uma turma onde muitos, apesar de estarem juntos há 3 anos, se confessavam perfeitos desconhecidos. Eu sei que é impossível ligarmo-nos com todos aqueles com quem nos cruzamos ao longo da vida. Sei também que, mesmo de entre aqueles com quem nos cruzamos, estabelecemos diversos níveis de cumplicidade consoante os nossos gostos, as nossas disponibilidades, as nossas identidades. Mas sei também que isso decorre da nossa limitação enquanto pessoas, que sempre que isso acontece quem fica a perder somos sempre nós próprios, seja porque escolhemos não arriscar, seja por nos encolhemos na hora da verdade, seja porque nem sequer sabemos bem porquê.

Acredito muito que cada pessoa tem em si uma riqueza que quase sempre desconhece e que apenas espera a sua oportunidade para sair cá para fora. E que é nosso dever fazer com que isso aconteça.

Provavelmente é por causa disso que eu gosto tanto da maiêutica socrática.

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