Todos acompanhamos ontem as notícias acerca da morte de Bin Laden, a alegria que foi para uns, a histeria que foi para outros, o medo de eventuais represálias, e tudo aquilo que irá alimentar os media até à próxima notícia bombástica.

Curiosamente, no dia anterior, acontecera mais ou menos a mesma coisa mas no pólo oposto da vida: concentraram-se milhares de pessoas na Praça de São Pedro para celebrarem juntos a beatificação do Papa João Paulo II.

Dei comigo a pensar de como por vezes me esqueço do poder dos indivíduos. Talvez porque dê tanto valor ao que é feito em grupo, em comunidade, tendo a esquecer-me que nada se faz sem que alguém, na maior parte das vezes na solidão da sua individualidade, dê o primeiro passo. E de como esse passo pode ser decisivo para tanta gente.

Tanto Bin Laden como João Paulo II eram homens religiosos. Ambos viviam em função da sua fé, ambos a professavam com igual fervor e tenacidade, ambos possuíam um carisma tal que arrastavam multidões. Por causa da sua personalidade, ambos mudaram o mundo de forma radical. Efectivamente, depois deles o mundo nunca mais foi o mesmo.

Contudo, esta aparente semelhança entre ambos é profundamente enganadora: um derrubou muros, o outro ergueu-os; um viveu em função da vida, o outro estabeleceu uma cultura de morte; um semeou a paz, o outro, escolheu a guerra. Não podiam estar mais longe um do outro!

Acredito que o que nos distingue uns dos outros enquanto pessoas são as pequenas decisões quotidianas que vamos tomando ao longo da vida. Acredito que o mais importante da vida não acontece nos grandes momentos mas todos os dias, a cada momento de cada dia, quando tomamos decisões aparentemente insignificantes, quando escolhemos direcções que, no seu início, fazem parte do mesmo caminho. O que por vezes esquecemos é que as nossas decisões, por pequenas e individuais que sejam, têm sempre alguma repercussão em quem nos rodeia. Vivemos num sistema de vasos comunicantes onde nada, absolutamente nada de nós, fica apenas em nós.

Cabe-nos a responsabilidade de escolhermos, a cada momento, o que queremos que transborde da nossa vida.

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