20110531
A melhor coisa que se pode fazer durante um jantar com um mau serviço é aproveitar para ter uma boa conversa. Enquanto esperamos pela longa sucessão de pratos, vamos trocando ideias e opiniões até que, sem que disso nos apercebamos, estamos a partilhar algo mais: um pouco de nós mesmos.
Foi algo parecido que tivemos do passado sábado. A conversa banal e superficial foi dando lugar a uma outra que nos implicava pessoalmente, dando-nos a descobrir mutuamente. Reparei como eu próprio, que me sinto particularmente à vontade quando navego em águas profundas, fui abrindo a porta à medida que encontrava as outras entreabertas.
Sempre achei muito curiosa a maneira como algumas pessoas vão(se) dando na exacta medida em que vão recebendo. Como se receassem tudo o que dizem, como se sentissem que os outros poderiam usar o que dizem para seu proveito próprio. Outras, porém, sendo o centro das atenções na fase das larachas, encolhem-se tremendamente quando a conversa se adensa, recusando-se a partilhar seja o que for sem a presença do seu advogado.
À medida que o tempo vai passando, vou tentando uma outra forma de conversar. Procuro ser menos impositivo, escutar mais, tento deixar maturar mais o que os outros vão dizendo sem me apressar a dar o meu próprio ponto de vista. Não o faço como defesa mas para tentar dar tempo e espaço às suas ideias para se confrontarem com as minhas próprias ideias.
Estou ainda longe, muito longe, de o conseguir. Mas gosto de acreditar que começo a estar no trilho certo.
20110529
Preciso de rezar.
Muito!
Rezo quando me procuro e rezo quando me encontro;
rezo quando sorrio e rezo quando choro;
rezo quando me pacifico e rezo quando me zango;
rezo quando paro e rezo quando caminho;
rezo quando consigo e rezo quando desespero;
rezo quando canto e rezo no silêncio;
rezo quando estamos e rezo quando estou;
rezo quando acordo e rezo quando sonho;
rezo quando somos e rezo quando sou;
Porque eu sou também tudo isto,
porque a minha vida é também tudo isto
e Te quero em toda a minha vida.
E porque eu também,
com toda a minha fragilidade,
quero que toda a minha vida
esteja em Ti.
Muito!
Rezo quando me procuro e rezo quando me encontro;
rezo quando sorrio e rezo quando choro;
rezo quando me pacifico e rezo quando me zango;
rezo quando paro e rezo quando caminho;
rezo quando consigo e rezo quando desespero;
rezo quando canto e rezo no silêncio;
rezo quando estamos e rezo quando estou;
rezo quando acordo e rezo quando sonho;
rezo quando somos e rezo quando sou;
Porque eu sou também tudo isto,
porque a minha vida é também tudo isto
e Te quero em toda a minha vida.
E porque eu também,
com toda a minha fragilidade,
quero que toda a minha vida
esteja em Ti.
20110525
Hoje, ao longo do dia, tive a visita de alguns amigos.
Refiro-me àqueles alunos que volta e meia me visitam para me matar as saudades. Não vêm apenas por minha causa, claro, mas depois de estarem com os professores que eventualmente mais os marcaram, arranjam uns minutos para virem cá acima, para estarmos juntos, conversarmos um bocado, revisitarmo-nos nas nossas memórias, e cada um volta depois à sua vida.
É muito giro este on-off de quem se gosta. Não precisamos de estar em permanente contacto, não precisamos de muito tempo de conversa, não precisamos até de grandes novidades uns dos outros. Por vezes tenho até a sensação que eles precisam justamente que nem existam essas novidades mas que as coisas estejam tal como as recordam. Regressam ao lugar onde foram felizes para estarem um pouco com as pessoas com quem, em determinada altura, foram felizes, sabendo todos que a vida já não passará por nós mas por outras vidas. E que é assim que deve ser.
Apesar das enormes dificuldades que por vezes ainda sinto - Santiago foi o exemplo mais recente! - o Mestre Tempo tem-me vindo a ensinar a soltar as amarras e deixar que naveguem em mar alto. Fico sempre muito feliz com a sua companhia, mas também fico feliz porque partem a saber navegar, e fico ainda mais feliz quando sei que encontram sucesso nos vários portos de abrigo por onde passam.
Afinal, é justamente para isso que levam tanto de nós.
Refiro-me àqueles alunos que volta e meia me visitam para me matar as saudades. Não vêm apenas por minha causa, claro, mas depois de estarem com os professores que eventualmente mais os marcaram, arranjam uns minutos para virem cá acima, para estarmos juntos, conversarmos um bocado, revisitarmo-nos nas nossas memórias, e cada um volta depois à sua vida.
É muito giro este on-off de quem se gosta. Não precisamos de estar em permanente contacto, não precisamos de muito tempo de conversa, não precisamos até de grandes novidades uns dos outros. Por vezes tenho até a sensação que eles precisam justamente que nem existam essas novidades mas que as coisas estejam tal como as recordam. Regressam ao lugar onde foram felizes para estarem um pouco com as pessoas com quem, em determinada altura, foram felizes, sabendo todos que a vida já não passará por nós mas por outras vidas. E que é assim que deve ser.
Apesar das enormes dificuldades que por vezes ainda sinto - Santiago foi o exemplo mais recente! - o Mestre Tempo tem-me vindo a ensinar a soltar as amarras e deixar que naveguem em mar alto. Fico sempre muito feliz com a sua companhia, mas também fico feliz porque partem a saber navegar, e fico ainda mais feliz quando sei que encontram sucesso nos vários portos de abrigo por onde passam.
Afinal, é justamente para isso que levam tanto de nós.
20110524
Nunca é fácil lidarmos com as nossas próprias limitações. Se somos confrontados em público, então, a coisa pode mesmo ser muito complicada.
Hoje tive uma Eucaristia. Que não correu assim tão bem. Não é nada de mais, mas as pessoas esquecem frequentemente que uma Eucaristia não e um espectáculo mas um serviço. Não tem, por isso que ser perfeita em todos os seus passos, em toda a sua complexidade. É de pessoas que estamos a falar e não de máquinas. Contudo, como é uma Eucaristia com pais e filhos, quer-se sempre que as coisas estejam impecáveis, que espelhem uma absoluta dedicação e competência. Quando isso não acontece há quem se sinta incapaz, desmotivado, magoado com os eventuais comentários que possam daí advir.
Confesso que dificilmente dou para este peditório. No início ficava muito preocupado: se cantava bem ou mal se tocava nos tempos certos, se as pessoas pensavam que me estava a exibir... Agora isso não acontece. De todo! Vou sempre para uma Eucaristia como quem vai para uma festa: alegre, disposto a aproveitar ao máximo aquela oportunidade de celebrarmos juntos a Vida.
por vezes sinto atingi um ponto na vida que já não preciso de iludir ninguém. Nem sequer a mim próprio. estou consciente das minhas capacidades, das minhas limitações e se alguma coisa falha - e falha sempre - levanto-me, sacudo o pó e retomo o caminho.
É a vantagem de ter dados tantas vezes com os queixos no chão ;-)
20110523
Hoje de manhã procurava algo para me aquecer o coração. Sabia que ia ter um dia complicado e nessas alturas procuro sempre ver o lado B da vida, ficar atento ao que me rodeia para me encontrar nos outros. Percorri os blogues, vi os jornais online, olhava para as pessoas e... nada. Há dias assim, em que o muito que tenho que fazer me tolda a visão e me impede de ver a vida com os olhos de ver.
Estou agora na capela do Colégio à espera de fazer um novo ensaio. Estou sozinho, sentado, com o computador ao colo - sacrilégio: estou a trabalhar na capela!!!! - e recebo um mail da Pat com uma pequena história. Sorrio, leio atentamente, sorrio mais ainda no final. Aqui estava ele, o "vale a pena" deste dia.
Tenho dias assim, em que tenho plena consciência que procuro a felicidade, que não fico à espera, como na aldeia do Astérix, que o céu me caia em cima da cabeça, mas vou à procura dele, e se não o encontro em mim procuro-o nos outros.
E tenho a sorte de ter outros dias assim, em que os outros, provavelmente respondendo a um impulso que não conseguem explicar, me trazem o céu numa bandeja de prata.
Ou num e-mail, que vai dar ao mesmo.
20110522
Sendo católico, com todas as minhas naturais falhas e debilidades, eu tento por todos os meios compreender a Igreja que amo e até que ponto ela está em consonância com o Cristo, que eu amo ainda mais.
Hoje estava na eucaristia, na minha Igreja (de S. Pedro) a olhar para a representação do báculo, que em nada se assemelha ao cajado de um verdadeiro pastor. Pensava na enorme riqueza e poder do Vaticano, na vassalagem que teimamos em prestar aos Bispos como de Roma à cabeça, no facto de termos a sensação que o Concílio Vaticano II deve estar algures, nas profundezas de uma gaveta papal, na tremenda dificuldade que sentimos quando tentamos justificar todo esse poder e riqueza na sede de uma Igreja que se quer pobre e serviçal.
Mas isto é uma coisa, com a qual eu concordo. Não podemos continuar a servir a dois senhores conservando riquezas enquanto pregamos a pobreza. É contra-producente, é imoral, é profundamente anti-evangélico. Contudo, um outro aspecto bem diferente é a constante tentativa de alinhamento com a modernidade. Movimentos como o Nós Somos Igreja, ou como a Teologia da Libertação, que vou seguindo atentamente; teólogos como Kung, Boff ou Masiá, que eu leio assiduamente, têm um fundo de verdade - aquele que referi anteriormente e com o qual me identifico - mas depois resvalam para a radicalidade, para a exclusão, para a sobranceria racional. E é justamente aí que eu não concordo.
Eu amo a Igreja da qual faço parte. Talvez por a minha fé ter sido tardia e ter desde sempre estudado muito nesta área, eu fui-me sentindo cada vez mais ligado à minha Igreja. Acredito mesmo em tudo quanto rezo o Credo, mesmo na Igreja Santa, Católica e Apostólica. Acredito também que temos um longo caminho a percorrer e que o tempo para o fazermos vai escasseando. Acredito que há demasiada vaidade em muitos padres, bispos e daí para cima, assim como acredito que há demasiada vaidade na esmagadora maioria dos leigos que conheço que chegaram a luares de destaque na Igreja, o que, por si só, me leva a pensar que esta não é uma questão de ordem mas de serviço. Acredito que a catequese tem que dar uma grande volta, que a moral tem que dar uma grande volta, que o conhecimento tem que ser muito mais efectivo que o que tem sido. Acredito nisto tudo. E acredito ainda mais numa Igreja que se quer peregrina, frágil e serviçal, que seja testemunho vivo de um Jesus que quis ser, Ele mesmo, peregrino, frágil e serviçal. Acredito por isso que temos muito que caminhar, muito que aprender, muito que fazer.
Mas acredito que apenas sendo Igreja tornaremos essa Igreja uma realidade.
A verdade liberta-me. Sempre. Ainda que às vezes não o consiga entender na altura, ainda que muitas vezes também eu escolha varrer para debaixo do tapete, a verdade é que a vida me tem ensinado à saciedade que a verdade liberta-me. Sempre.
No final da eucaristia de hoje estava na conversa entre amigos - aqueles amigos tão amigos que apesar de não nos vermos nos últimos seis meses conversamos sempre como se estivéssemos juntos todos os dias - e às tantas revelei algo que havia cuidadosamente omitido há alguns anos. Fi-lo não pensando no que disse, com o mesmo à-vontade de quem não tem nada a esconder - e não tenho, efectivamente - mas que para muitas pessoas é sinal de pouca maturidade, de uma personalidade pouco "adulta".
Que seja!
À medida que vou caminhando, que vou envelhecendo, apercebo-me que vivemos demasiado tempo em função de determinadas ideias feitas que não justificam, de forma alguma, esse nosso cuidado. Se é importante cuidarmos da nossa privacidade - e é-o até como salvaguarda fundamental no nosso eu - então que o façamos construindo a nossa casa sobre a rocha, sobre o que vale efectivamente a pena, sobre o que nos pode levar a sermos mais no final de cada dia, e não em função do que os outros esperam que sejamos, ou gostariam que fôssemos. Os outros são muito importantes como espelho de nós pois é neles que nos revemos. Não podem, contudo, é ser nós.
É justamente esta a postura que tento transmitir aos meus filhos, sabendo contudo que eles não estão ainda preparados para o seguir. Mas é isso que tento fazer como pai e como educador: apontar caminhos, sugerir atitudes, despertar neles a atenção para o que os rodeia, para as escolhas que vão fazendo a cada momento.
E tento perceber que as escolhas deles não têm que ser aquelas que eu faria, por muito que isso às vezes me custe. Até porque isso os tem vindo a tornar pessoas muito melhores do que eu.
20110520
Por vezes sinto que a palavra chave é cumplicidade. Aparentemente tão simples e efectivamente tão complicada!
Não há nada como sentir que existimos para além de nós próprios. Isso pode-se verificar, ainda agora, em plena campanha eleitoral, na forma como os políticos nos olham nos olhos enquanto nos tentam vender as suas ideias. Tudo em nome de uma certa cumplicidade. Fictícia, claro está. Mas ainda assim...
Eu gosto muito quando consigo ver nos outros mais que apenas os seus olhos. E normalmente não me escondo, também deixo que me perscrutem, também eu baixo as minhas defesas. Acredito que é isso que nos torna uns dos outros, gradualmente, lentamente, permitindo a descoberta mútua, aquela intersecção de vidas que contribui para o reconhecimento do "nós".
Marcou-me muito este ano um dia de reflexão de uma turma onde muitos, apesar de estarem juntos há 3 anos, se confessavam perfeitos desconhecidos. Eu sei que é impossível ligarmo-nos com todos aqueles com quem nos cruzamos ao longo da vida. Sei também que, mesmo de entre aqueles com quem nos cruzamos, estabelecemos diversos níveis de cumplicidade consoante os nossos gostos, as nossas disponibilidades, as nossas identidades. Mas sei também que isso decorre da nossa limitação enquanto pessoas, que sempre que isso acontece quem fica a perder somos sempre nós próprios, seja porque escolhemos não arriscar, seja por nos encolhemos na hora da verdade, seja porque nem sequer sabemos bem porquê.
Acredito muito que cada pessoa tem em si uma riqueza que quase sempre desconhece e que apenas espera a sua oportunidade para sair cá para fora. E que é nosso dever fazer com que isso aconteça.
Provavelmente é por causa disso que eu gosto tanto da maiêutica socrática.
Causou-me sempre alguma impressão o cuidado que as pessoas colocam no amor. Tratam-no como se fosse algo raro, a utilizar com toda a parcimónia, com medo que se gaste se for excessivamente utilizado. Por isso entretemo-nos todos a gastá-lo aos bocadinhos, pedacinho a pedacinho, para que nunca nos falte. Nem a ninguém. E de um forma clara e abusivamente exclusiva: este, deste tipo é para ti; aquele, de outro tipo, é para ele; oh! acabou.se por hoje. Volta amanhã que eu vou tentar repor os stocks, ok?
É caricatural, eu sei. Amar é algo de muito importante, implica muita responsabilidade, temos por isso que pensar muito bem em quem podemos amar, não é? Não, não é. Lamento, mas não é. Porque me hei-de limitar? Porque é mau amar muitas pessoas? Ter muitos amigos? Estarmos completamente apaixonados, embrenhados, envolvidos de corpo e alma, na vida? Se fecharmos os olhos e pensarmos em pessoas que amaram muito, quem vemos? Pessoas que valem a pena? Pessoas que viveram assim-assim? Pessoas que mudaram a vida de outras pessoas? Porque haveremos nós então de nos armarmos aos cágados?
Hoje (ainda) estou para aqui virado. Ainda bem!
S. Bernardo: "A medida do amor é amar sem medida."
S. Bernardo: "A medida do amor é amar sem medida."
20110518
Se há alturas em que me detesto profundamente é quando sou obsessivo. E sou-o com as coisas mais inúteis e estúpidas do mundo: um programazinho do computador que não funciona como eu gostaria, um qualquer objeto sem interesse nenhum que eu não me lembro onde coloquei, algum risquinho num dos meus equipamentos....
Fico fora de mim. Várias vezes. A primeira é quando me apercebo do que não funciona ou perdi. A segunda é quando me apercebo que estou a perder muito tempo com uma coisa que manifestamente não vale a pena. A terceira é quando isso não me sai da cabeça, por muito que eu me esforce.
Hoje, quando vinha para cá, a Belita dizia-me que eu tenho dupla personalidade, que quando me salta a tampa - ia escrever a trampa ;-) - me transformo. E eu acredito que ela apenas pecou por defeito: mais que duas personalidades, eu tenho para aí uma boa meia-dúzia, e qual delas a pior. às vezes dá-me vontade de fazer Ctrl+Alt+Del para reinstalar todo o software cá por dentro, limpinho de vírus, de lixo, e ficar como novo.
Mas não adianta. Deixa cá ver se resolvo isto antes que faça mais asneira.
20110517
Enquanto Moçambique não chega, combato o cansaço fazendo aquilo que normalmente faço quando se aproxima o fim de um qualquer ciclo: analiso o que fiz, revejo o que experimentei, revisito o que senti, para tentar perceber se este foi ou não um tempo desperdiçado.
Não são critérios muito rigorosos, aqueles que utilizo para estas avaliações. Tento perceber se cresci, se porventura sou mais do que era quando comecei: mais rico, mais humano, mais consciente das minhas limitações, mais próximo.
Sou benevolente comigo próprio.
Apercebo-me sem dificuldade que tenho mais olhos na minha vida, que reconheço mais pessoas quando se cruzam comigo, que me sorriem mais e que sabemos ambos porque sorrimos.
Tenho também mais vidas em mim, mais cumplicidades, mais preocupações quando não sei se estão bem, mais alegrias quando me certifico que a sua vida corre.
Tenho também mais de mim em mais pessoas, o que, porque não é de matemática que se trata, me multiplica em vez de me dividir. Porque tenho mais outros em mim, porque sou, eu próprio, mais outros, tenho mais Deus, uma fé mais vivida, mais adulta, mais madura.
Tenho também cada vez menos tempo, o que apenas pode ser bom. O Mestre Tempo ensinou-me que quando não cedo à tentação de o encerrar em mim, escolhe correr a meu favor.
Estes balanços - que eu faço quando me sinto mais cansado, mais inseguro - permitem-me perceber que, apesar das canseiras, apesar das discussões, apesar das imensas dúvidas e inexistentes certezas, apesar de me sentir muitas vezes pequenino, pequenino, tenho, afinal, muitos motivos para dar Graças. Pela minha família, pelos meus amigos, pelo meu trabalho, e pela minha fé, que a tudo isto dá sentido.
20110514
Uma boa notícia e outra péssima.
A boa é que isto volta a ser possível. Depois de dois dias em que pensava ter perdido os posts, o blogspot voltou a carburar. Perfeito! Creio que os blogues são, nesta altura, uma das mais importantes fontes de conhecimento. Claro que há muita palha, muita coisa que não interessa nem ao Menino Jesus, mas quem, como eu, já anda por estas bandas há alguns anos, já consegue distinguir o trigo do joio. E o facto é que desde a ciência, à religião, passando pela política, artes e informática, este é um meio fundamental para nos mantermos a par do que de melhor e pior se faz por esse mundo fora. E de alguns dos nossos amigos.
A péssima é que o Olhares de repente deixou de permitir copiar as suas fotos. Este blogue fica assim incomensuravelmente mais pobre. Foram muitas as vezes em que as fotos eram a única coisa que valia a pena nos posts. Creio até que para a maior parte das pessoas os textos são perfeitamente irrelevantes, porque apenas a mim me dizem respeito, porque estão mal escritos, porque espremidos não dizem nada... porque escrevo fundamentalmente para mim, para ordenar as minhas ideias e raramente penso em quem poderá ler isto. O que importa é que o Olhares é um amigo que visito diariamente e que me ajuda a ver o que me rodeia com outro olhos. Entendo perfeitamente que tenham impedido que se copiem as suas fotos. Tenho pena, é certo, mas tudo bem.
Terei agora que ver sem tocar ;-)
Nada a que não esteja habituado.
20110512
Os meus filhos e outra malta nova perguntam-me muitas vezes como é. Como é amar a mesma mulher há 26 anos, como é deitar e acordar todos os dias a seu lado, do que conversamos durante estes anos todos - ainda por cima quando trabalhamos no mesmo sítio - se ainda temos motivos de conversa ou se a nossa é já uma conversa acabada. Perguntam-me o que vi nela, como soube que era ela, como ainda sei que é ela, se não me arrependi, se não desejaria que tivesse sido diferente...
Aqui há uns tempos chamavam-nos "o casal-maravilha". Graças a Deus deixaram-se disso. Como eu detestava! O meu casamento é tudo menos pacífico. O nosso amor, esse é pacífico, mas o amor, por si só, nunca chegou para sustentar um casamento. A nossa vida em comum é muito feita de quotidiano, de dia-a-dia, de vida vivida, sem muitos floreados. É muito feita de conversa e mais conversa e mais conversa ainda, da capacidade de conversarmos sobre as mesmas coisas as vezes necessárias de forma a que, lentamente, pessoas tão diferentes como nós se possam ir encaixando à medida que os problemas surgem, que as dificuldades surgem, que as alegrias surgem.
As pessoas duvidam quando dizemos que nunca fizemos grandes planos, que nunca pensamos muito bem nas coisas, que fomos acolhendo aquilo que a vida, em cada momento, nos ia dando. Foi assim com os filhos, com os projectos, com os empregos, com as casas e os lugares onde fomos ganhando o nosso tempo. Creio que essa foi uma parte importante da nossa vida: não a balizamos excessivamente, não a encarceramos mas abrimos horizontes, ficamos atentos, alegramo-nos e entristecemo-nos consoante o que a vida nos ia proporcionando. Vivemos sempre nos limites, nos limites da paixão, nos limites da entrega, por vezes nos limites da ruptura, como apenas quem é casado percebe. Nunca fomos de meias tintas, de meios termos, de deixar correr o marfim para ver no que dá. Tudo o que fizemos de importante fizémo-lo juntos e intensamente. E quando adormecemos no pedaço, ou melhor, para ser justo; quando eu adormeci no pedaço e julguei ser apenas eu, quase quase deitava tudo a perder.
Porque um casamento - a vida, toda ela - não é feito de grandes momentos. Não é feito de grandes discussões, grandes passeios, grande decisões, mudanças profundas. Num casamento, quando isso acontece resulta sempre de um caminho que muitas vezes é imperceptível e que apenas pode ser avaliado ao fim de alguns anos, quando olhamos para o que passou. Fundamental, mesmo, é que apesar das enormes dificuldades por que já passamos, apesar de algumas discussões bem feias, de alguns momentos em que a ruptura foi falada, sempre sentimos que o nosso nunca foi um caso de falta de amor. Pelo contrário: na base esteve sempre o desejo de passarmos mais tempo juntos, a falta que sentimos um do outro, a necessidade que temos de nos aconchegarmos um no outro. Nunca se tratou de pretensas infidelidades, de sonhos alheios à presença do outro, de vontade de viver uma vida separada.
Tem sido uma vida cheia, esta. Por causa dos filhos, por causa do trabalho, por causa da fé, por causa do nosso envolvimento de cabeça em mil e uma actividades, em mil e um projectos, temos tido tudo menos monotonia. E continuamos a aprender, hoje. A aprender a começar a viver mais para nós e menos para os filhos, a viver aquilo que completa o outro e que a mim nem me diz tanto, a apoiar-nos nos nossos sonhos, que finalmente ganham voz agora que os filhos já vão caminhando sozinhos.
Faz hoje 21 anos estava nervoso, muito nervoso, por volta desta hora. E com medo do futuro. Hoje, findo este tempo, estou absolutamente calmo, absolutamente grato, absolutamente esperançado que muito temos ainda que caminhar.
Juntos, com a Graça de Deus.
20110511
O meu mano novo acabou de me ligar: estava a chegar a Fátima, depois de ter saído daqui no passado domingo. Fiquei feliz, claro. Muito feliz.
Curiosamente, ele nunca foi dessas coisas: tem uma maneira muito própria de viver a sua fé, muito diferente da minha, que gosto sempre de ir bem fundo em todas as questões. Ele vive a fé com a naturalidade de quem respira, sem se questionar muito, sem se martirizar muito, até sem se comprometer muito. A sua fé faz parte da sua vida, está muito ligada ao nosso RH+, aos nossos amigos de muitos anos, que ele viu a crescer, que ele formou e de quem continua a ser o verdadeiro fundamento.
A nossa relação é muito fora do comum - toda a minha relação com os meus irmãos e os meus pais é muito fora do comum - muito feita de ausências de palavras, de respeito pelas enormes diferenças que nos unem, mas de um enorme, imenso amor que nos une. Não me lembro de alguma vez termos discutido forte e feio, de alguma vez nos termos zangado, de alguma vez não termos estado mal sentíssemos que o outro precisava. E foram enormes as provas de fogo a que fomos sujeitos enquanto irmãos, enquanto companheiros de infortúnio. E nunca em nós houve uma palavra de recriminação. Amamo-nos e respeitamo-nos justamente tal como somos: com os nossos imensos defeitos.
Para o bem e para o mal, sabemos ambos que nos amamos muito para além das palavras.
Sem nunca termos sentido a necessidade de o dizer.
Nem sequer de o ouvir.
20110510
Gosto de passear pelo meu pensamento, de o deixar fluir à vontade, sem eira nem beira. Lembro-me muitas vezes de Mandela, quando afirmou que era dessa maneira que se libertava: o corpo estava aprisionado, mas o pensamento esse, era livre como um pomba.
Aprendo muito nesses meus devaneios. Revisito pessoas, relembro situações, recordo aulas e matérias estudadas, e tudo funciona como uma daquelas máquinas misturadoras: meto tudo no mesmo saco e de repente apercebo-me que tudo está ligado: pessoas, conhecimentos, situações, aprendizagens, tudo faz parte do mesmo, tudo tem como que um fio condutor, tudo se encaixa como as peças de um lego que me entretenho a construir.
Não me sento a meditar, no silêncio e no escuro, à espera que estes passeios surjam. Nada disso. Acontecem muito de manhã, noutras alturas durante as minhas caminhadas, noutras ainda apesar de estar rodeado de pessoas. É como uma válvula de escape: faço as minhas sínteses, mato as minhas saudades e organizo o meu interior.
É esquisito, eu sei. Mas nunca me preocupei muito com a normalidade. Vantagem de gaguejar.
20110509
Já passei por alguns momentos bem difíceis, na minha vida. Alturas em que andei completamente desnorteado, sem saber o que fazer, com quem fazer, desvalorizando tudo e todos, ignorando tudo e todos, num processo auto-destrutivo que quase mudava a minha vida para sempre. Essas alturas foram sempre consequência de decisões que tomei quando estava inebriado de mim próprio, do meu pretenso sucesso, da minha total e completa cegueira acerca de mim próprio. Nessas alturas, Graças a Deus, não me faltaram grilos falantes que me iam alertando ininterruptamente para o quanto estava errado nas minhas opções e na escolha do caminho a seguir. Em vão. Completamente cheio de mim, avançava até bater, estrondosamente, com a cabeça na parede. A minha sorte é que as mesmíssimas pessoas que antes me avisavam, continuavam lá para me levantar.
Aprendi da forma mais dura que ficar cheio de mim é o meu maior perigo, o caminho mais curto para fazer asneira. E da grossa. Por isso fico sempre assustado quando alguém me dá demasiado valor. Eu, que sei bem do que a casa gasta, que sei bem que não tenho a consistência que deveria e desejaria ter, olho para todos os lados e pergunto-me onde estarei a falhar desta vez. Tento depois jogar mais à defesa: falar menos, andar pela sombra, arrefecer os ânimos, gerir as coisas até que tudo volte ao normal e eu possa ir recuperando, lentamente, o lugar que eu sinto como meu, no lado menos visível do mundo. Por isso tento rir-me de mim próprio, não me levar muito a sério, questionar-me, voltar a questionar-me e questionar-me de novo e, sobretudo, encontrar nos outros o meu próprio caminho, ver neles exemplo, dons que nunca terei, capacidades que estão a léguas das minhas.
O melhor de tudo é que isto permite-me descobrir pessoas absolutamente espantosas, umas mais novas, outras menos, que me dão, todos os dias, razões para me sentir pequenino e sentir que tenho ainda muito para caminhar. Enquanto assim for, sei que pelo menos estarei a salvo de mim próprio.
Aprendi da forma mais dura que ficar cheio de mim é o meu maior perigo, o caminho mais curto para fazer asneira. E da grossa. Por isso fico sempre assustado quando alguém me dá demasiado valor. Eu, que sei bem do que a casa gasta, que sei bem que não tenho a consistência que deveria e desejaria ter, olho para todos os lados e pergunto-me onde estarei a falhar desta vez. Tento depois jogar mais à defesa: falar menos, andar pela sombra, arrefecer os ânimos, gerir as coisas até que tudo volte ao normal e eu possa ir recuperando, lentamente, o lugar que eu sinto como meu, no lado menos visível do mundo. Por isso tento rir-me de mim próprio, não me levar muito a sério, questionar-me, voltar a questionar-me e questionar-me de novo e, sobretudo, encontrar nos outros o meu próprio caminho, ver neles exemplo, dons que nunca terei, capacidades que estão a léguas das minhas.
O melhor de tudo é que isto permite-me descobrir pessoas absolutamente espantosas, umas mais novas, outras menos, que me dão, todos os dias, razões para me sentir pequenino e sentir que tenho ainda muito para caminhar. Enquanto assim for, sei que pelo menos estarei a salvo de mim próprio.
20110507
Tivemos, ontem, um jantar maravilha. Estávamos quase todos, o ambiente era espectacular, e não fosse o nosso aspecto limpinho, diria que ainda estávamos em Santiago.
Creio que posso afirmar que não foi apenas para mim que o Caminho, ou melhor, que Este Caminho foi muito especial. Porque ninguém sabia ao certo ao que ia, porque éramos "inocentes" na partida, porque nem sequer nos conhecíamos assim tão bem - e portanto não tínhamos expectativas, ou se as tínhamos, eram mais para o baixo - porque no fundo temíamos todos que a coisa não corresse bem... sei lá, mil e um motivos que nos deixavam um tanto ou quanto de pé atrás.
Curiosamente, agora que penso em cada um dos que caminharam, não aconteceu aqui aquilo que eu já disse que aconteceu com Moçambique: aqui havia meia dúzia de pessoas que à partida nem sequer pensaria em convidar. Acredito que uma parte importante do sucesso da caminhada esteve justamente aí: cada passo, cada km, cada dia, revelava-nos, para além de situações novas, pessoas novas, com facetas que nos surpreendiam a cada momento e que agora guardamos cuidadosamente para que as não possamos esquecer.
Foi muito bom, ontem. Foi bom confirmar que nos continuamos a sentir muito bem uns com os outros, foi bom sentir que estávamos todos na mesma onda, que todos tínhamos saudades, que todos gostaríamos de estar ainda lá, no Caminho. Quando participo nestas coisas normalmente fico só com a minha saudade ao fim de alguns dias. A vida vem e toma conta da nossa vida obrigando-nos a remeter as tas coisas boas para o fundo do baú das recordações. Desta vez, porém, pelo menos não me sinto só. Ainda nos olhamos uns aos outros com saudade. Ainda nos reconhecemos nos olhos uns dos outros. E ainda sentimos um gozo enorme em estar juntos, em abraçarmo-nos para celebrarmos, juntos, a sorte de nos termos.
Obrigado, Pai, por ainda não me sentir só no Caminho.
20110506
Escrevo... apago. Reescrevo... volto a apagar. Procuro... não encontro.
Hoje não sai nada em condições.
Por um lado, foi uma semana muito longa, muito dura, com muita coisa a tratar e muito pouco tempo para o fazer. Foi também uma semana repleta de noites (muito) mal dormidas, à espera que a Catarina chegasse a casa. Acresce ainda que foi uma semana de ressaca pois nas que a antecederam tive Santiago e a Irlanda. No sábado tive RAIZ aqui no Colégio... no domingo a festa do Ica e da Rita...E esta semana foi recuperação de trabalho, de estudo, reuniões e mais reuniões.... à noite tive terço e o jornal...
Enfim...
Chego ao fim desta semana de trabalho com a clara sensação que não posso com uma gata pelo rabo.
Completamente esgotado, física e mentalmente!
Daqui a pouco começarei a descontrair num belo dum jantar com uma bela duma companhia recordando um belo dum Caminho.
Hmmmm! Já me cheia a Fim-de-Semana!
20110504
«No fracasso, há algo dentro de mim que se destrói. Destrói-se aquilo onde depositei as minhas esperanças. O importante, numa situação tão crítica como essa, é que eu próprio não seja destruído (…) No entanto, se entender esta situação como algo que se rompeu em mim para que o meu verdadeiro núcleo se manifeste de forma mais clara, poder-me-ei reconciliar com o fracasso. Nesse caso, isso não me rouba a minha dignidade e também não me oprime».
O livro das respostas, Anselm Grün, (Paulinas, Lisboa, 2008).
Não há coincidências. Por isso achei interessante ter lido hoje este pequeno excerto num dos muitos blogues que acompanho diariamente.
Ontem, numa das cada vez melhores sessões de formação para Moçambique, falamos de pontes, de projectos, de caminhos, e, fundamentalmente, de encontros e desencontros. Uma das palavras que recortei foi justamente fracasso. Porque conheço bem o seu sabor, porque conheço bem o seu poder destrutivo, mas também porque sei bem como nos pode alicerçar na vida se tivermos quem nos faça sentir amados. Apesar de tudo.
Foi muito bom, ontem. Pela primeira vez abordamos o tema da fé, rezamos juntos, começamos a destapar-nos, a baixar as defesas, a construir uma intimidade comum a todos. Isso será fundamental quando estivermos longe dos lugares e das pessoas onde nos refugiamos habitualmente, quando a saudade apertar, quando o cansaço incomodar verdadeiramente a ponto de criar mossas.
Ainda ontem dizia que se eu tivesse podido escolher com quem queira ir a Moçambique teria escolhido justamente aqueles. Gostaria de ter mais alguém - sinto a falta do Manel - mas não gostaria de abdicar de quem quer que seja. Acredito que irá ser uma grande aventura para todos nós, uma daquelas experiências que nos deixarão uma marca indelével. Para o melhor e para o pior.
Acredito que, com o grupo que temos, tudo correrá pelo melhor.
Já falta pouco!!!!
20110503
Todos acompanhamos ontem as notícias acerca da morte de Bin Laden, a alegria que foi para uns, a histeria que foi para outros, o medo de eventuais represálias, e tudo aquilo que irá alimentar os media até à próxima notícia bombástica.
Curiosamente, no dia anterior, acontecera mais ou menos a mesma coisa mas no pólo oposto da vida: concentraram-se milhares de pessoas na Praça de São Pedro para celebrarem juntos a beatificação do Papa João Paulo II.
Dei comigo a pensar de como por vezes me esqueço do poder dos indivíduos. Talvez porque dê tanto valor ao que é feito em grupo, em comunidade, tendo a esquecer-me que nada se faz sem que alguém, na maior parte das vezes na solidão da sua individualidade, dê o primeiro passo. E de como esse passo pode ser decisivo para tanta gente.
Tanto Bin Laden como João Paulo II eram homens religiosos. Ambos viviam em função da sua fé, ambos a professavam com igual fervor e tenacidade, ambos possuíam um carisma tal que arrastavam multidões. Por causa da sua personalidade, ambos mudaram o mundo de forma radical. Efectivamente, depois deles o mundo nunca mais foi o mesmo.
Contudo, esta aparente semelhança entre ambos é profundamente enganadora: um derrubou muros, o outro ergueu-os; um viveu em função da vida, o outro estabeleceu uma cultura de morte; um semeou a paz, o outro, escolheu a guerra. Não podiam estar mais longe um do outro!
Acredito que o que nos distingue uns dos outros enquanto pessoas são as pequenas decisões quotidianas que vamos tomando ao longo da vida. Acredito que o mais importante da vida não acontece nos grandes momentos mas todos os dias, a cada momento de cada dia, quando tomamos decisões aparentemente insignificantes, quando escolhemos direcções que, no seu início, fazem parte do mesmo caminho. O que por vezes esquecemos é que as nossas decisões, por pequenas e individuais que sejam, têm sempre alguma repercussão em quem nos rodeia. Vivemos num sistema de vasos comunicantes onde nada, absolutamente nada de nós, fica apenas em nós.
Cabe-nos a responsabilidade de escolhermos, a cada momento, o que queremos que transborde da nossa vida.
20110501
Não é que eu não tivesse gostado dele. Nem sequer que eu ache que não mereça ser santo. Nada disso. Mas desagrada-me sempre o culto da personalidade, qualquer que ela seja.
Estava em Santiago no Domingo de Ramos. Quem celebrou a Eucaristia do Peregrino foi, creio eu, um cardeal ou um bispo lá do sítio. Durante a procissão que antecedeu a eucaristia, ele era quem levava a palma maior, mais bonito, mais cuidadosamente trabalhada. Não consegui deixar de pensar que, como testemunho do que é Jesus, era um pobre exemplo para nós cristãos.
Eu sei que é perfeitamente utópico pensar que alguma vez os bispos, os padres, ou até nós, leigos. alguma vez teremos a coragem de assumir na prática o serviço de Jesus. Que nos deixaremos de rococós sempre que o Bispo vem à paróquia, que sejamos simples como todos os dias somos simples quando o pároco vem jantar a nossa casa, e nos deixemos de colocar as pessoas num pedestal. Eu sei que isso nos está entranhado, que fazemos o mesmo sempre que recebemos visitas especiais lá em casa, que também pomos a toalha das festas, o serviço das festas e até, muitas vezes, o sorriso artificial das festas. Eu sei porque eu também, apesar de tudo, sou assim. Mas sinto sempre isso não como algo a preservar ou a vangloriar mas como uma falha, como algo que seria bem melhor que não acontecesse.
Quando algo deste género acontece a nível da hierarquia superior da Igreja, então, sinto que temos todos um longo caminho a percorrer. Porque me parece que favorece a fezada e não a fé, porque me parece tudo muito artificial, para televisão ver, muito mão no peito, muito arrebatamento, muita lágrima fácil, muito tudo aquilo que Jesus não foi.
Não é que não tivesse gostado de João Paulo II. Particularmente na fase final da sua vida, testemunhou com a sua velhice que os velhos têm um lugar importante entre nós e que essas coisas da dignidade da eutanásia e afins não passam de estupidez pegada. Não duvido que ele mereça ser santo. Duvido é da utilidade de uns (pretensos) milagres para que o possa ser, duvido do espectáculo, duvido das manifestações de fé que exigem simplesmente a ausência de qualquer racionalidade.
Para choque de muitas pessoas, continuo a dizer que, em matéria de santidade e exemplo de vida, recordarei muito mais rapidamente algumas pessoas, pequeninas e anónimas aos olhos do mundo, mas absolutamente fundamentais para que, apesar do que ainda sou, seja hoje muito melhor do que seria se não as tivesse conhecido.
E essa, creio, é a verdadeira configuração com Cristo.
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