O mesmo dia, dois momentos, dois estados de espírito, duas formas de estar, duas formas de sentir, diferentes. Completamente diferentes.

Caminhamos como caminhamos sempre. Com palavras. Por vezes com pés, outras com olhares, rápidos, fugidios, muitas com a doce ilusão do que se vê de olhos fechados, mas sempre com palavras. Não foram elas que nos introduziram, foi outra coisa, que as dispensa, que as torna supérfluas, mas que elas vão consolidando. Com a particularidade de, desta vez, terem sido outras, as palavras que tivemos por companhia. Menos perguntas, menos repostas, menos necessidade de perguntas e de respostas, mais lugar ao puro prazer da companhia, à coisa nenhuma, ao tudo profundo, ao tudo e ao nada, provavelmente espelhando uma maior confiança no tempo que há de trazer consigo o tempo das perguntas e respostas significativas, acreditando que agora o tempo joga a nosso favor.

Caminhamos como caminhamos ultimamente. Olhos no chão, olhos no que nos rodeia, no que se passa à nossa volta, cuidadosamente evitando os olhares. Com palavras, sempre com palavras, que interrompam o silêncio que persiste fazer-nos companhia, apesar de não ter sido convidado, apesar de ter mudado de sentido, apesar de ter passado de partilhado a incómodo. Foram já outras as palavras com que caminhávamos, foram já outras as que utilizávamos, tantas e tantas vezes, plenas de sentido, plenas de vida, plenas de verdade. Mas hoje, algumas perguntas, algumas respostas, que já não querem saber mas constituem armas de arremesso que mais não visam que provocar danos, conquistar justificações, próprias ou alheias, que dêem conforto quando estamos a sós com a almofada.

E o Eugénio, sempre o Eugénio, a sussurrar "já gastamos as palavras pela rua, meu amor..."

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