Ontem tivemos uma daquelas longas conversas acerca da fé. Quando a começamos estávamos ainda a jantar e quando a terminamos olhei com espanto para o relógio e vi que passava da meia-noite. Os meus filhos sabem que eu adoro conversar com eles acerca da Igreja e das coisas da fé. Sabem que eu estudei e estudo para tentar saber um pouco mais, mas, mais importante que isso, sabem que têm toda a liberdade para colocarem todas as dúvidas que quiserem e de as manter até que a vida as consiga esclarecer. Não sou, nunca fui, nada proselitista talvez porque, como ainda ontem lhes disse, acredito muito pouco que alguém se converta à fé apenas por causa do que dizemos. Acredito sim, que Deus faz o seu caminho para chegar a todos nós e que, na melhor das hipóteses, nós deixamos que Deus actue em nós, aceitamos ser parte desse caminho, mas sempre através do que vamos conseguindo ser todos os momentos da nossa vida. Nada disto é novidade para eles, já foi dito muitas vezes, e por isso fico mesmo feliz quando eles me procuram para conversarmos, dando-me a oportunidade de os conhecer um pouco melhor e, de certa forma, se o desejarem, de crescermos um pouco mais.

Os meus filhos estão quase todos naquela fase da vida em que começam a assumir a responsabilidade pelas suas próprias decisões. Não que eu não queira saber o que se passa com eles, mas por uma questão de respeito. Acredito que o essencial do que lhes tínhamos a transmitir enquanto pais já foi feito, preocupo-me bastante em fazê-los sentir que cometer erros de percurso é normal e quando isso acontecer eles têm sempre para onde voltar sem que nada lhes seja atirado à cara, mas agora é chegado o tempo de serem eles próprios a fazerem o seu caminho. Sob o nosso olhar atento, como sempre, mas é o seu caminho.

Nos dias bons, chego a ter algum orgulho no percurso que fiz. Muita indefinição, muitas dúvidas, algumas asneiras, muita solidão, muito caminho nas pernas, muita procura, algumas chegadas... Ontem, quando me deitei depois daquela conversa, dei Graças. Porque, pelo menos por eles, ainda que mais não houvesse, viver já teria valido a pena.

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