Nunca entendi bem o que leva as pessoas a chegarem à minha vida.
E a saírem.
Permanecendo... ou não.

Umas entram de rompante e provocam tumultos, remexendo, revirando, saindo depois com a mesma impetuosidade, indiferentes ao rasto que deixam atrás de si. E o que deixam é quase sempre uma marca de saudade dos futuros que nunca o chegaram a ser, de tudo o que poderia ter sido, das loucuras que poderia ter cometido mas que, por decisão própria, falta de coragem, falta de arrojo, excesso de comodidade, foram por mim preteridos em favor de outros caminhos escolhidos. Volta e meia cruzamo-nos novamente, normalmente num rede social, e ficamos mutuamente felizes por sabermos que a vida nos conduziu a lugares que, sendo diferentes, são os de cada um de nós.

Outras pessoas, no entanto, entram de mansinho. Por algumas delas espero bastante tempo. Intuo que há qualquer coisa, que a vida se encarregará de confirmar ou desmentir, e vou ficando atento, pelo canto do olho, aos seus sinais, ao seu percurso, às alturas em que nos cruzamos, esporádicas umas, mais assíduas outras, mas deixando que as suas impressões façam caminho. Algumas dessas esperas tornam-se demasiado longas, demasiado inconclusivas, não atam nem desatam, e às tantas apercebo-me que são passado, que também elas ficaram no que poderia ter sido. Mas há esperas que têm uma outra consistência, uma outra sede de possibilidade de futuro, cujos sinais persistem no tempo e podem durar anos inteiros a viver de pequenas respirações, de pequenos nadas, que volta e meia, um gesto aqui, uma palavra acolá, um olhar mais atento, impedem que a possibilidade de futuro dê lugar à memória do passado.

E, às tantas, acontece. Uma fragilidade mútua, uma coincidência no tempo, e no lugar, e na vontade, e nas circunstâncias, uma partilha sincera, e vemos confirmado tudo aquilo que subentendíamos há tanto tempo, tudo aquilo que pressentíramos, tudo aquilo que eventualmente sonháramos e é agora confirmado pela batida acelerada da pulsação, pelo sorriso franco que temos diante de nós, pela alegria mútua da alma, pela franca partilha das fragilidades.

A vida tem o seu ritmo próprio (Eclesiastes 3, 1-8). Nós é que somos ainda demasiado cheios de nós próprios para acreditarmos que a controlamos.


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