Hoje, o caminho de ida não chegou. Continuava a precisar do silêncio, de ter o mar diante dos olhos, do seu som a bater nas rochas, hoje suave, muito suave, precisava da sua companhia por mais algum tempo e não do barulho dos automóveis e da paisagem citadina que me costuma fazer companhia no caminho de volta. Hoje precisava de ver apenas a linha do horizonte que é definida pelo mar, e que me transmite sempre aquela sensação de infinito, de eterno, onde me posso perder com facilidade sem que ninguém me encontre. Hoje precisava de algum tempo mais, precisava de dar tempo ao que estava na minha cabeça, ao que gritava na minha cabeça, para que, lentamente, suavemente, como quem não quer a coisa, começasse a dar lugar ao serenar do coração, para que, lentamente, suavemente, começasse a ecoar o que me ia na alma. Hoje precisava mais do meu olhar que do olhar daqueles que se cruzam comigo, a passo de corrida uns, a passo de passeio outros, a passo todos, auscultadores nos ouvidos, olhos postos no chão, num visível esforço de se ultrapassarem todos Como eu, aliás, atento ao meu olhar, escutando a minha voz, tentando discernir algo que valesse a pena por entre a gritaria, tentando encontrar um qualquer fio condutor que hoje, e apenas hoje, me pudesse servir de rumo.

Hoje, o caminho de ida não chegou. Fiz o de volta, contrariamente ao habitual, vendo uma outra paisagem completamente diferente, trocando as voltas às minhas costas, presenteando um novo horizonte ao meu olhar, vendo outras pessoas, as que normalmente fazem daquele o caminho de volta e que permanecem longe do meu olhar quando faço de outro caminho o caminho de volta. Tive mais mar, mais vento, mais gaivotas, mais silêncio, mais paz. E tive mais tempo para me (re)encontrar.

Bom dia

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