Bem cedo deixei de acreditar que existiam alturas certas para estarmos com quem amamos. E passei a acreditar que o tempo, quando é inteiramente dedicado por nós, é muito relativo. Tenho escassos mas absolutamente deliciosos e até decisivos minutos com cada um dos meus filhos enquanto estamos a ir ou a vir para ou de qualquer lado. Não é necessária uma grande viagem, não precisamos de momentos especiais, grandes dias ou acontecimentos importantes. Basta estarmos só nós, quando nada mais interfere ou distrai a nossa atenção, e temos as mais deliciosas conversas, e muitas vezes as mais profundas revelações.

É frequente ouvir os meus amigos que são pais ou mães queixarem-se que ao fim do dia ou ao fim de semana são motoristas. Algumas das melhores partilhas com os meus filhos aconteceram justamente quando os estava a levar para o futebol ou para a música, ou vínhamos da equitação, ou agora do andebol. O facto de estarmos apenas os dois no carro fazia-os sentirem-se únicos, possuidores da minha total disponibilidade naquela altura, o que, numa casa com pelo menos sete pessoas, é um privilégio. E depois, enquanto estou à espera deles, babo-me completamente ao assistir aos seus desempenhos, envolvo-me na sua forma de estar nas actividades e, não raras vezes, descubro neles uma outra forma de ser pessoa, que me era impedida pelo meu olhar paterno.

Em Hollywood existe a máxima "não há papeis pequenos; há actores pequenos." Aplico-a muitas vezes na minha vida, no meu contacto com as pessoas, na forma como vivo os aparentemente pequenos acontecimentos que ao fim do dia se revelam muitas vezes muito importantes. Porque a vida acontece todos os dias, a toda a hora, e não apenas nos momentos especiais. E às vezes não a conseguimos ver. E como é muito importante educarmos o olhar! E sairmos do centro da nossa atenção.

Comentários

Mensagens populares deste blogue