Apenas duas coisas em mim provocam o silêncio involuntário: o peito vazio e o peito cheio.

Quando vazio, não tenho nada para dizer. Tudo é turbilhão de ideias e imagens e momentos e frases e gritaria em alvoroço, provocando o alvoroço, impedindo qualquer pensamento claro, obstruindo qualquer discernimento. Nada sai porque tudo acontece ao mesmo tempo, e o silêncio é ensurdecedor.

Quando cheio, não consigo dizer nada. Tudo é turbilhão de ideias e imagens e momentos e frases e gritaria em alvoroço, provocando o alvoroço, impedindo qualquer pensamento claro, obstruindo qualquer discernimento. Nada sai porque tudo acontece ao mesmo tempo, e o silêncio é ensurdecedor.

Apenas aparentemente o vazio e o cheio são a mesma coisa.

Quando o peito está vazio, o meu percurso é descendente. Tudo é colocado em causa, todas as decisões, todas as atitudes, todas as palavras, são passadas pelo crivo, frequentemente impiedoso, da minha racionalidade em busca de uma razão, de um motivo, de algo que possa alterar. É um silêncio solitário, de uma solidão provocada, absolutamente necessária para que possa, sozinho, descer aos confins de mim mesmo tentando encontrar aí uma saída. E nesses dias, como sabiamente diz a canção, eu não me recomendo.

O peito cheio é feito de presença, de companhia, de palavras que me deixam sem palavras, de imensidão, de futuro, de memórias de conversas de partilhas que sempre serão partilhas porque me impulsionam os sonhos e esta extraordinária sensação que o universo está em sintonia com a minha alma. O peito cheio é feito de olhares, concretos e definidos, de momentos que serão eternos porque se querem eternos, guardados bem fundo, na prateleira dos inolvidáveis, na pasta dos repetíveis desejados, bem ao lado dos sonhos realizados e a realizar. E nesses momentos, como sabiamente diz a canção, deixai-me ir, que o mundo vai sorrir ao ver-me passar.

Algures no meio, eu. Permanentemente embasbacado, permanentemente grato, permanentemente aturdido, à procura de saber transmitir o que acontece cá por dentro.

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