Apesar de ter uma consciência muito apurada - sinto-me sempre culpado até prova em contrário - e de ter feito uma série considerável de asneiras ao longo da vida, voltar atrás nunca foi algo que desejasse muito. As decisões que tomo tomo-as sempre segundo as circunstâncias - as que me são externas e, fundamentalmente, as paranóicas - e sempre tive a noção que não adiantaria de muito voltar ao mesmo lugar porque, provavelmente, voltaria a cometer os mesmos erros.

Há, no entanto, uma série de episódios que uma mão cheia de dedos pode contar que preferiria que não tivessem acontecido. O que têm em comum é que neles magoei mais do que fui magoado. O que têm em comum é que não cheguei a pedir-lhes desculpa pelo que fui, pelo que fiz, ou pelo que disse. O que têm em comum é que a sua recordação nunca me deixou reconciliar-me comigo mesmo.

Durante anos imaginei uma outra conversa, uma outra forma de fazer, até uma outra forma de ser. Tomada a decisão, parti para a ação, alicerçado numa imaturidade que me acompanhou até algo tarde, na minha vida. Como sempre, tinha escolhido não confrontar, para não magoar. Como sempre, acabei por magoar muito mais que se tivesse sido o homenzinho que já deveria ser na altura. Durante anos esse episódio - e as suas consequências - acompanhou-me. Imaginava, sonhava, uma outra conversa, calma, serena, onde apresentava as minhas justificações e depois seguiríamos ambos, cada um para o seu lado, lambendo as feridas mas prosseguindo com as suas vidas, como tinha que acontecer. Como acabou por acontecer. Voltamos a estar juntos na semana passada, fruto do acaso. Desta vez a situação forçou-nos a algo mais que o distante "olá" que já tinha acontecido antes, e tivemos mesmo que trocar algumas palavras que fossem para além da simples circunstância. Não foi necessário mais. Não foi necessário o pedido de desculpas formal - que, no entanto, acredito que ainda possa vir a acontecer - que me sossegaria a alma, mas já ame permitiu ver que não há ressentimentos, que a vida prosseguiu, como tinha que acontecer.

Sou feito de muitas pessoas. Algumas delas ocuparam pouco espaço, cá por dentro. Outras, no entanto, são ainda interlocutores privilegiados das minhas conversas solitárias enquanto caminho. Essas, seja por bons ou maus motivos, nunca deixaram de fazer parte de mim. Chegaram, acamparam, e por aqui continuam. Algumas delas até à altura em que possa dizer mais um "olá" circunstancial, que me assegure que a vida prosseguiu. Como tem que acontecer.

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