Tenho ainda bem presente uma discussão taizeniana acerca de copos meio cheios e meio vazios e realismos e fantasismos e pessimismos e otimismos. Por isso sorri quando entramos pela portaria principal e, olhando o cartaz de Timor, pensei "já conseguimos mais de metade", e ela disse, em voz alta "ainda falta muito para atingirmos o objetivo". Dificilmente algo seria mais esclarecedor!. De um lado eu, sempre a olhar para o que já tenho, sempre a valorizar o que já tenho, sempre a apreciar a paisagem, a saborear a viagem, sem dar demasiada importância ao destino. Do lado oposto ela, sempre com os objetivos bem definidos, sempre com os pés demasiado assentes no chão, de olhos postos no papel enquanto lá fora a paisagem vai desfilando, sem que ela dê conta. Algures no meio, o nós, sempre a chamarmos a atenção ao que escapa, sempre a apresentarmos a nossa própria visão do mundo, sempre a impormo-nos a visão do outro, sempre a descobrirmos o novo através do seu olhar e da sua postura sobre a vida. Tem sido assim desde sempre e, francamente, quem tem saído a ganhar têm sido os meus filhos. Têm o melhor de dois mundos - ou o pior deles se não souberem escolher a melhor altura/pessoa quando querem alguma coisa - e sabem já que, filtrando o que um e outro diz ou faz, terão o caminho mais sensato e mais seguro. Nós também sabemos já que há determinadas áreas que remetemos para o outro. Os estudos, por exemplo, não são bem a minha área "pai, tive 15. Ótimo filho" "mãe tive 15. Só? Andas a brincar!" Tempos houve em que tentamos conciliar tudo antes de chegar aos filhos. Combinávamos posturas e formas de fazer e de dizer para que eles nos pudessem ter a uma só voz. Era isso que os educadores aconselhavam, era isso que os nossos amigos faziam e tentávamos, como pais, ser o que todos os pais querem ser: perfeitos. Em vão. Fomos descobrindo que o nosso bom senso aliado ao conhecimento dos nossos filhos e de nós próprios ia chegando para, pelo menos, irmos tateando o caminho. Não tínhamos a segurança do olhar dos especialistas mas tínhamos os nossos filhos a caminhar connosco, com avanços e recuos, como sempre tem sido a nossa vida. Sempre fomos cartas fora do baralho. Vínhamos de vidas muito diferentes, temos formas diferentes de viver o mundo, por vezes com perspetivas quase irreconciliáveis, que originaram discussões intermináveis, ainda não definitivamente acabadas. Contra a corrente, contra as probabilidades, contra o instituído, contra o que muitos dos que nos conheciam esperavam, vivemos todo este tempo muito felizes, e esperamos viver outros tantos, pelo menos.

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