Eu sou muito dado a incontinências verbais. Normalmente exerço uma vigilância atenta e constante sobre mim, particularmente sobre o que eu digo, porque tenho uma longa história de percalços linguísticos dos quais depois de arrependo amargamente. Há alturas, no entanto, em que, seja porque ando mais cansado, seja porque ando mais emotivo, seja por pura falta de apetite, parece que há uma autoestrada que conduz o que eu sinto directamente da boca para fora, sem pagar portagem. Ainda há bem pouco tempo deixei que as palavras não passassem pela razão, deixando que o que sentia falasse mais alto, sem filtro, sem sequer me aperceber que o tinha feito. Não seria grave se estas coisas me envolvessem apenas a mim, mas isso nunca acontece e acabo invariavelmente por constranger - às vezes até por magoar - pessoas que me são queridas. Não era à toa que o meu sogro me dizia muitas vezes que "o Calado é um grande jogador!"
No entanto, depois de passado o choque, nunca tenho a certeza do que é melhor: dizer o que vai na alma ou racionalizar o que se diz. Quando os meus filhos eram pequenos, como quaisquer filhos pequenos, diziam tudo o que lhes vinha a cabeça. E então lá estávamos nós a ensiná-los a filtrar o que diziam, que dependia das circunstâncias, do grau de proximidade dos que estavam connosco, dos locais, e até do que tinham a dizer. E eles ficavam confusos, a princípio, porque tinham a sensação que os estávamos a ensinar a mentir. E eu também ficava desconfortável porque sentia que, no mínimo, estava a ensiná-los a falsear o que lhes era natural.
Mas a realidade é que não posso andar a dizer tudo o que me vai na alma. Assim como não posso fazer tudo o que me dá na real gana. E nem sequer é para me proteger, mas para proteger aqueles que vivem à minha volta. Apercebo-me muitas vezes que há leituras muito díspares do que eu faço ou digo. Que posso ter a melhor das intenções, posso ter as coisas absolutamente claras para mim, ter estabelecido até uma linha de raciocínio perfeitamente lógica e depois aparece alguém com uma leitura, igualmente lógica, mas em sentido totalmente oposto ao meu. E aquilo que era pacífico, natural, bom até, torna-se de repente mau e nocivo para os que me rodeiam.
Aprender. Ponderar. Aprender a ponderar. Eis o que seria um excelente workshop para mim. Aprender a contar até cinco (para mim bastaria até três) antes de falar, antes de fazer. Gostaria? Certamente! Ser-me-ia útil? Claro que sim. Seria bom? Não sei. Poupar-me-ia? Com certeza. Mas talvez me retirasse a espontaneidade. E já foi por isso que deixei a terapia da fala.
Bom senso, precisa-se.

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