Porque tive que vir com o meu filho aqui perto, estou a meio de uma enorme afluência de recordações. Não vinha ao Maia Shopping há anos e no entanto aqui estou agora, sentado, por puro acaso, numa das mesas onde estivemos todos juntos a jantar, a comer um gelado, a comer qualquer coisa por entre as compras do supermercado.
Gosto muito da geografia dos sentimentos. Durante a minha vida passei por muitos sítios. Vivi em muitas casas, estudei em muitas escolas, trabalhei em alguns lugares completamente diferentes entre si. Em todos eles estabeleci rotinas. De percursos, de paisagens, de pessoas, de olhares. Lugares que me eram perfeitos desconhecidos tornaram-se familiares, com os seus cheiros, os seus sons, o seu movimento automóvel, as horas de ponta e de nada. De todos eles, em determinada altura, tive uma hora de partida. Seja porque tinha mudado de escola, ou de casa, ou de emprego, tive que fazer um corte, do dia para a noite, que acabou por arrastar consigo as pessoas que estavam nessas rotinas. Amigos que eram quotidianos deixaram de o ser, conhecidos com quem me cruzava retomaram os seus lugares de desconhecidos, e o fulcro da vida passou a ser outro. Com  novas rotinas, com novas paisagens, com novas pessoas. Nunca fiz grande alarido disso, habituado que estou desde miúdo a esse procedimento. Nos primeiros anos da minha vida vivi em seis ou sete lugares diferentes, só na primária andei em cinco escola diferentes, e chegadas e partidas não me fazem grande confusão. Nem é bom nem é mau, é assim. Ponto final.
Mas aqui neste Maia Shopping tive já estados de espírito completamente díspares. Muito felizes, uns, a princípio, quando vínhamos todos aqui às compras e ficávamos para comer qualquer coisa, ou ir ao cinema, ou simplesmente a ver montras (eu gosto de ver montras!). Muito maus os finais, pouco antes de a rotina assumir outro destino, de completo desespero, de completo sofrimento, de total sufoco, em silêncio, numa solidão estupidamente auto-imposta, não partilhada.
Hoje, é apenas um lugar. Cheio de recordações, mas um lugar. Eu sou já completamente outro, com outro tipo de inquietações, com outro tipo de experiências, com uma outra vida vivida que nada tem a ver com aquela que vivia na altura. Um outro que se me afigurava na altura completamente impossível de existir, com um presente que me parecia estar totalmente fora do meu alcance, com uma serenidade, apesar de tudo, que juraria nunca mais voltar a ser minha. Afinal, o céu acabou por não cair em cima da minha cabeça, afinal consegui refazer a minha vida - e a mim com ela - e aquilo que eu mais temia - ficar irremediavelmente só e destroçado - acabou por não acontecer.
A vida dá muitas voltas. Umas programadas, outras inesperadas, outra com mudanças que se nos escapam por entre os dedos apesar do cuidado que pusemos na sua antecipação. Ir acolhendo a mudança, chorando quando é de chorar, rindo quando é de rir, vivendo ao máximo, aproveitando ao máximo, saboreando ao máximo, parece-me um bom caminho. E sempre em boa companhia. Isso sim, é um bom princípio.

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