No final da reunião, conversamos um pouco apenas a dois. "Tem três filhos maravilhosos, nos quais deve ter muito orgulho. Este também algum dia há de fazer o click." "Desculpe, mas na realidade tenho cinco filhos maravilhosos."

Ela sabe bem que tenho cinco filhos. Foi professora dos quatro que estudaram lá (a Rita não veio a tempo daquele colégio) e, ao longo dos anos, tivemos conversas suficientes para ela saber que o meu orgulho nos meus filhos tem muito pouco a ver com os seus resultados académicos. Ainda há bem pouco conversávamos e eu tinha-lhe dito justamente isso, que as notas são apenas uma parte da sua formação. E da nossa preocupação.

O "este", este ano, teve um percurso académico acidentado. E isso nunca nos tinha acontecido. Estamos muito mais habituados a quadros de honra que a asneiras que justifiquem uma chamada à escola. Estamos muito mais habituados a "vê se vais até lá fora apanhar ar" que a "então hoje não estudas?" e esta é uma novidade com a qual estamos ainda a aprender a lidar. Com alguma dificuldade, confesso. A minha perspectiva relativa da importância das notas é muito diferente da perspectiva quase absoluta da minha maisquetudo, e isso tem originado alguma fricção. Que, como sempre, conciliaremos, claro. Para mim, sempre foi muito importante que os meus filhos conseguissem conciliar a sua progressiva autonomia com o sentido de responsabilidade que os valores que lhes incutimos exigem. Para mim, mais importante que o episódio é o percurso, é o pano de fundo, o rumo que cada um vai escolhendo e definindo de acordo com as suas escolhas. Tendo isto, que creio que é o mais importante porque fundamenta as suas vidas, os acidentes de percurso são tratados como acidentes de percurso: cai, aprende, chora, aprende, levanta, aprende, sacode o pó, aprende, prossegue, aprende. Não há um princípio e um fim, um objectivo que vale tudo, que justifica tudo, até que a viagem se perca. Tudo é viagem. Simultâneamente princípio e fim do tanto que temos a aprender.

Tenho um orgulho enorme nos meus filhos. Em todos eles. Com o seu percurso. Com a sua personalidade. Com as suas vitórias e derrotas. Com as cabeçadas na parede. Com as conversas que temos. E as gargalhadas. E as lágrimas. E os ralhetes. E as discussões. Tenho um enorme orgulho nos meus filhos. Sem, no entanto, lhes exigir sempre o que podem dar. Tudo o que podem dar. Nunca quis ter sobredotados. Ou doutores. Ou carreiras académicas e profissionais de sucesso. Sempre quis ter filhos felizes. Nada é tão importante para mim. Como para qualquer pai. Como para  qualquer mãe.

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