Todos os anos é mesma coisa: abraços, sorrisos, um até sempre que depois se vai tornando mais espaçado, mergulhados que ficamos nas nossas próprias vidas, nos nossos próprios enredos. Qualquer educador tem que saber fazer este processo de liga/desliga. Todos os anos somos recordados, invariavelmente, inapelavelmente, que os miúdos não são nossos, que apenas nos passaram pelas mãos, que, no melhor dos casos, até lhes conseguimos transmitir algo que poderá ser duradouro, mas que quase sempre ficará relevado para o fundo do baú.
Ontem, à hora do almoço, enquanto caminhava com um dos meus filhos pelas redondezas, um antigo aluno passou por mim. Cumprimentamo-nos, conversamos uns minutos e seguimos o nosso caminho. O meu filho riu-se "foi muito engraçado aquele momento em que cada um de vós não sabia se haveria de cumprimentar, em que não tinham a certeza se o outro era mesmo quem estavam a pensar". Eu disse-lhe que não era isso. Eu sabia quem ele era, não tinha era a certeza que ele me reconhecia ou até se estava na disposição de parar para me cumprimentar. Muitas vezes é isto que se passa. Nunca sei até que ponto posso ter ou não sido relevante na vida de alguém e por isso jogo à defesa, deixando a cada um a liberdade de se dirigir a mim ou não.
Naturalmente, há alunos que passaram por mim e me deixaram bastante. Afinal, o tempo que passamos juntos, o tipo de actividades que tivemos, que envolveram muito de cada um de nós, muita entrega mútua, por vezes até uma abertura especial advinda da enorme confiança que se foi gerando, tem que deixar marcas. E isso nota-se por exemplo, quando algum deles me vem visitar e conversar comigo e fazer saber como está, como tem vivido, como tem sido o seu percurso. Mas há muito tempo deixei de ter ilusões. Na esmagadora maioria dos casos somos andaimes, fundamentais na construção da obra e depois retirados para poderem ser utilizados numa outra construção. Esse é o nosso papel. Com muito orgulho!

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