Nunca me vi como adepto de grandes massas. Tenho saudades da altura em que o Porto perdia mais vezes que aquelas em que ganhava e ser do Porto era ser do contra, e quando, como este ano, não ganhamos nada, a minha maior tentação é fazer-me sócio. Também quando perco as eleições apetece-me filiar-me no dia a seguir. O que nunca acaba por acontecer, aliás. Nunca gosto da moda quando está na berra - embora tenda a gostar dela depois, o que me faz andar sempre fora de moda - nunca gosto do mainstream, gosto dos filmes esquisitos, das músicas que ninguém ouve, e quando me apercebo que gosto ou faço aquilo que todos gostam ou fazem, pergunto-me o que terei de errado comigo. Por muito que acredite e defenda uma ideia, se estiver numa discussão onde todos a defendem, eu tendo a ser o advogado do diabo e a procurar o contraditório. Confundindo tudo e todos, como sempre. Não gosto de bater no ceguinho, de estar do lado dos mais fortes e admiro sempre o David, imediatamente antes de ficar do lado do Golias quando lhe tentam cortar a cabeça depois de estar caído no chão.
Não tenho nisto mérito algum, nem sequer tenho a certeza que isto seja merecedor de mérito. Há já muito tempo que esta faz parte daquelas coisas que tento encaixar na minha vida sem andar desesperadamente à procura de uma explicação. Às vezes penso que é assim porque gaguejo. E gaguejar faz-me sentir que estou sempre do outro lado da barricada. Noventa e nove por cento das vezes sinto que gaguejar é uma bênção na minha vida. Principalmente porque quase me obriga a manter a boca fechada em meios que não conheço bem. E manter a boca fechada é o primeiro passo para sermos considerados sábios, o que é sempre bom. Ainda que, invariavelmente, seja por pouco tempo. Mas gaguejar é uma bênção por outro motivo. Nunca gosto, mas ouço algumas vezes a minha voz gravada, e apercebo-me nessas alturas como deve ser difícil escutar-me. E isso força-me a ter uma certa humildade, a tentar manter os pés no chão, e sobretudo, a contrariar a tendência que tenho para gostar em demasia daquilo a que chamo o som da minha voz.
 

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