Têm-me ensinado, nestes últimos tempos, a importância da serena persistência.

Esta semana fomos todos ver o Inside Out. No intervalo, dedicamo-nos a comentar qual seria a personagem proeminente dentro de cada um de nós, aquela que tomaria conta das operações e interferia maioritariamente nos nossos estados de espírito. E conseguimos, quase por unanimidade (a excepção era o visado) indentificar-nos e às nossas idiossincrasias.

Numa família grande, como a nossa lá de casa, a gestão dos silêncios é uma arte. Disséssemos todos o que nos passa na cabeça, quando nos passa na cabeça e teríamos ainda mais balbúrdia. Todos nós aprendemos, por isso, que por vezes o melhor é calar, momentaneamente, e escolher a altura certa para falar, quando as coisas estão mais serenas, e a racionalidade regressou à base. E isso, bem vistas as coisas, é uma arte. Difícil, certamente. Mas importante.

Faz agora um ano, estive num funeral no Bairro. A determinada altura, começou tudo a gritar e a chorar em altos berros com desmaios pelo meio. Houve um tempo em que também eu era assim. E de certa forma ainda sou, quando baixo a guarda sobre mim mesmo. Por vezes ainda falo alto, gesticulo muito, e ainda confundo a potência da voz e a postura agressiva com a autoridade. E a posse da razão.

Confio, no entanto, que o contacto quotidiano com pessoas que são diferentes, que pensam de maneira diferente, que agem de maneira diferente, me possam contagiar. Por isso fico atento quando estou junto delas. Atento às suas palavras, à sua forma suave mas persistente de ser, de falar, de apresentar as suas ideias e lutar pelas suas propostas sem com isso magoarem seja quem for. O curioso é que essa forma de ser corresponde àquela que eu entendo que é a mais eficaz. Sempre acreditei, racionalmente, que ninguém altera o rumo de um barco a remos à fora de berros mas estando lá dentro, remando, contribuindo para definir e manter o rumo certo. Por isso, sempre acreditei, racionalmente, que funcionar a berrómetro é estúpido e arrependo-me sempre amargamente quando o faço.

Agora falta-me outra coisa: aprender a esperar quando o meu silêncio e a minha serenidade não produzem o efeito desejado. Mas isso é outra coisa.

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