Ontem fiz 49 anos. No big deal. Nunca gostei particularmente dos meus dias de aniversário. A Isabel normalmente faz de tudo para que tenha um bom dia. Mobiliza-se, mobiliza os meus filhos, quando o permito mobiliza os meus irmãos e os meus pais, tentando sempre que aquele dia seja especial. Normalmente, em vão. Posso gostar de alguns momentos do dia, da forma como estamos juntos, da forma como, tal como aconteceu ontem, os meus filhos me preparam um jantar todo catita e jantamos lá fora, no jardim, e pegamos nas guitarras e cantamos no final, e sou dispensado da cozinha... Eu gosto disso. Gosto muito disso. Mas gosto... apesar do meu dia de anos. e nem sei bem porquê.
Ontem tive a oportunidade de fazer um balanço do que foi este ano que passou - e do que tem sido a minha vida - por três momentos diferentes. E três perspectivas igualmente diferentes.
De manhãzinha, sozinho, no meu habitual percurso matinal junto ao mar, o foco incidiu sobre o ano que passou. E dei Graças! No que realmente me importa - as pessoas! - foi um ano muito rico. Cresci muito, colhi bastante, aprendi imenso! Tive experiências fantásticas: Santiago, ComTigo, a Pastoral, Taizé (em ano vintage, colheita especial), Rumos, Dias de Reflexão... As pessoas que acompanho em todas essas actividades têm o dom de me fazer redescobrir, de me fazer recentrar no essencial, de me ajudar a redescobrir-me e a definir-me novamente e a estabelecer novas metas, afinar estratégias e manter rumos. Qualquer que seja a sua idade, qualquer que seja o seu papel no colégio ou no raiz ou no instituto ou na vida vivida, tive a sorte de aprender ao longo do ano com verdadeiros mestres na arte do amor pela entrega aos outros, com aqueles que não sabem da sua importância porque estão focados na importância daqueles a quem servem todos os dias. E tive o enorme privilégio de ser aceite como seu amigo.
Mais tarde, enquanto almoçávamos a dois, fiz um outro balanço. Mais longo, mais profundo, de certa forma mais doloroso porque há erros que foram cometidos cujas marcas teimam em permanecer, porque aprendi muitas vezes à custa de cabeçada, porque fui reerguido demasiadas vezes quando deveria ter sido eu a erguer. É um outro campeonato. Onde tudo é mais: as vitórias são mais vitórias e as derrotas são extremamente dolorosas. Mas onde sou amado. Profundamente amado. Por vezes dolorosamente amado. Não é fácil ser meu filho, não é fácil ser minha mulher, não é fácil viver permanentemente comigo e ter que lidar, todos os dias, com as minhas limitações e insuficiências e irreflexões e inconsistências e anseios e calimerices e tudo aquilo que me define e que apenas eles sabem porque apenas eles têm que arcar com as consequências de mim próprio. Em minha defesa, apenas o amar muito, o amar tudo o que sei e consigo e posso, o dar tudo o que sei e consigo e posso, que muitas vezes - demasiadas vezes! - é pouco mais que coisa nenhuma. É, efectivamente, afectivamente, um outro campeonato.
No final do dia, um outro balanço, a mesma amargura de sempre. A espera, em vão, dos parabéns de quem os deveria dar mas nunca o fez. Por mais que viva, há coisas que nunca deixarão de mexer comigo. Infelizmente!

Comentários

Mensagens populares deste blogue