Defendo há muito tempo que, se tivéssemos todos bons amigos, os psicólogos estariam no desemprego. Claro que é uma forma extremamente simplista de colocar as coisas, claro que há pessoas que precisam de algo mais que uma boa conversa, de muito mais que uma boa conversa, que precisam de ajuda para se encontrarem, para se reencontrarem, para se definirem entanto pessoas, e a ajuda de um bom psicólogo é absolutamente fundamental para o conseguir. Eu próprio oiço muitas vezes, de pessoas que me são mito próximas, que precisava de um psicólogo, e dizem-no sempre que se vêem aflitas para me entenderem, e às minhas constantes incongruências e derivações, e não conseguem descortinar um qualquer fio condutor no que digo e/ou faço. No entanto, acredito mesmo que uma boa conversa com quem nos ama o suficiente para estar lá por nós e para nós, para nos escutar, para nos interpretar e, fundamentalmente, para nos aceitar exactamente como somos sem contudo desistir de nos fazer pessoas melhores, faz milagres.
Amigos assim não são fáceis de encontrar e, por vezes, de lidar, Confrontam-nos com as nossas falhas, espevitam as nossas limitações, chamam-nos à pedra e à razão quando percebem que estamos demasiado adormecidos, ou fazemos demasiadas asneiras, e até têm por vezes palavras duras que nos ajudam a descontruir-nos e a levarmo-nos menos a sério. Mas também são verdadeiros pêndulos, que percebem a cada momento o que nos faz mais falta e estão disponíveis e atentos para nos dar o miminho quando mais precisamos dele, o alento que tanto necessitamos, a palavra ou a carícia que cai como se tivesse vindo do céu (e muitas vezes é essa justamente a sua origem), fazendo-nos sentir que, apesar de tudo, ainda valemos a pena.
Mas não são apenas estas as alturas significativas numa amizade. São também aquelas em que nada há a fazer ou a discutir, a crescer ou a mingar, a elogiar ou a criticar, aquelas em que nada nem ninguém aparentemente se recupera, mas em que o tempo flui,a conversa flui, o silêncio flui, e sentimos que estamos tão em harmonia com tudo sem perceber bem porquê. São aqueles momentos puramente de borla, de puro prazer de estar e gozar e saborear a companhia de quem amamos tanto e que sabemos que nos amam tanto. É o estar por estar, sem nada mais pretender, sem nada mais almejar, a não ser que o tempo pare de correr e possamos estar ali indefinidamente. São esses os momentos que alimentam o amor mútuo, que criam o lastro necessário que permitirá, mais tarde, quando for necessário, sempre que for necessário, aplicar a terapia do amor, de que tanto necessitamos.

Comentários

Mensagens populares deste blogue