Houve um tempo em que perseguia a sabedoria nos sábios. Nada me parecia mais lógico: estudar os filósofos gregos, os teólogos fundamentais, os autores consagrados, seria sempre um bom caminho para atingir aquilo que, desde que tenho consciência de mim, quis atingir: o saber ser, o saber estar, o saber pensar e, com sorte, chegar até a ter isso mesmo escrito na minha lápide.
Algures a meio do meu curso, enquanto estudava o Antigo Testamento, aprendi que aqueles textos não tinham sido escritos por autores consagrados mas por pessoas simples, comuns, e que Deus, ao seu jeito de sempre, nos fala através da sabedoria dos simples e não através dos escritos dos "sábios". Lembro-me perfeitamente de ter pensado que assim também eu, que se tivesse inspiração divina também eu encontraria a sabedoria. E fez-se luz. E tornou-se claro que eu procurava a sabedoria nos lugares errados. Que a sabedoria encontrava-se onde menos o esperava, quando menos o esperava, de quem menos o esperava. Que bastava abrir os olhos, estar atento, remover as etiquetas que utilizava até essa altura, e tomar cada pessoa, cada momento, cada frase dita ou escrita - mesmo (especialmente?) as que escapam à reflexão elaborada, como um ponto de partida - ponto de partida, não de chegada -  tão válido como o de qualquer sábio. E passei a tentar fazer isso, a tentar tomar cada um por si só, resistindo à tentação de o emprateleirar onde mais me convém, tentando não lhe atribuir um valor predefinido de acordo com as minhas expectativas. Nas escassas (raras até) vezes em que o consigo fazer, surpreendo-me sempre com o que aprendo. Posturas perante a vida, formas de lidar com um problema em particular, partilhas que acontecem durante uma conversa escrita ou falada sem qualquer outra pretensão que não seja o desfrutar do prazer da companhia, descomplicações e desmistificações que me ajudam a ter uma perspectiva correcta e mais salutar da vida, tudo isso me vem ter às mãos caído do céu, acredito mesmo que literalmente caído do céu, por intermédio daqueles que muitas vezes nem suspeitam que são caminho de salvação para mim.
É para mim sempre motivo de louvor quando alguém me desperta a consciência (do latim conscire, com + scire = saber com, aprendi hoje ;-) da bênção de viver rodeado de sábios. Pessoas que admiro pelo que são e fazem, e como são e como fazem, e pela humildade de nem sequer se aperceberem da forma sábia como vivem para os outros. Apesar de não deixar de ler os filósofos e os teólogos e os autores consagrados, é com eles que aprendo, todos os dias, a não desistir de tentar ser melhor.

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