Se hoje eu perguntasse ao meu Deus:
“quem é o meu próximo?”,
o que me responderia Ele?

Colocar-me–ia no centro da Parábola, a caminho de casa,
ou da escola,
ou de um qualquer outro lugar porque o que importa é o caminho,
é estar a caminho,
é não criar outras raízes que não sejam aquelas que me prendem à vida e me permitem alicerçar-me em Deus?

Dir-me-ia que sou o Sacerdote,
ou o Levita,
sempre preocupado com o que tenho que fazer,
com a forma certa de fazer,
genuinamente atento ao que é esperado de mim e por isso mergulhado nos papéis
e nas leis
e nas regras,
e por isso desligado do mundo,
dos que me rodeiam,
dos que comigo contam para poderem ser mais.
Mais felizes, mais alegres, mais dignos… mais vivos?

Ajudar-me-ia a descobrir,
em todo e qualquer momento,
quem é o meu Samaritano,
quem é aquele que olha para mim,
que para por mim
e, estendendo-me a mão, me levanta e me cura as feridas,
e paga do seu próprio bolso,
utiliza os seus próprios meios,
rouba tempo ao seu tempo e,
sem nada me pedir,
sem sequer me perguntar pelo meu nome, entrega-o a mim,
justamente a mim,
que ainda no outro dia passei por ele de olhos postos no chão, escolhendo não o ver para não ter que parar,
escolhendo não ter que gastar o meu precioso tempo com quem o desperdiça
para não ter que sujar as minhas mãos nas suas imundas roupas
ou suportar o seu mau hálito.

Se hoje eu perguntasse ao meu Deus:
“quem é o meu próximo?”
Ele provavelmente olhar-me-ia,
sorriria,
e, cheio bondade e paciência
 - como quem fala a uma criança de cinco anos! -
dir-me-ia
que o Samaritano sou eu.
Dir-me-ia,
cheio de bondade e paciência,
 - como quem fala a uma criança de cinco anos! -
que, mais importante que saber quem é o meu próximo
é fazer-me eu o próximo de alguém,
é fazer-me eu o próximo de todos quantos, caídos,
invisíveis
doridos e desesperados,
vêem todos os outros a passar ao largo.

Então, o meu Deus,
cheio de ternura, de bondade e paciência,
sorrir-me-ia e diria
- sabendo que já não sou uma criança, nem tenho cinco anos! -
“Vai.

Os que precisam de Mim estão à tua espera.”


Escrito para a celebração do 50º aniversário da OSSCM

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