«Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-Me. Pois quem quiser salvar a sua vida, tem de perdê-la; mas quem perder a vida por minha causa salvá-la-á. Na verdade, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder-se ou arruinar-se a si próprio?». Lc 9, 23-25

Nunca me foi fácil seguir Jesus. Pelo menos o Jesus em quem acredito, que é diferente daquela pessoa peace and love, bonzinho e soft, que por vezes nos é impingido. O Jesus no qual acredito é radical, absolutamente radical, na sua proposta de vida, na forma como viveu a sua própria proposta de vida, que era a do Pai. E por isso nunca me foi fácil seguir Jesus. Porque sei que não tenho desculpas, porque me sinto envergonhado sempre que volto a cara para o lado e escolho não ver. porque sei que não tenho o desapego suficiente para assumir essa radicalidade de viver exclusivamente para os outros. E, sem isso, sem essa radicalidade, tudo é grau, tudo é dimensão própria, fruto da escolha de cada um de se manter agarrado ao que entende ser mais importante.

Volta e meia, cá pelo burgo, há pessoas que se entretêm a discutir quem poderia participar mais nos projetos, quem poderia ser mais ativo, quem é mais cómodo do que devia e não permite aliviar a carga àqueles que se sentem demasiado sobrecarregados. Confesso que nunca dou demasiada importância a este tipo de discussão. Mesmo descontando a nossa especialidade em exigir aos outros o que não exigimos de nós próprios, eu tenho consciência do percurso que tive que fazer, interior e exteriormente, para chegar a esta altura da vida e fazer o que gosto de fazer. É-me muitíssimo pouco relevante ter muita gente à minha volta ou estar praticamente sozinho. Não é já uma questão de número mas de comunhão. Mesmo que tivesse muitas mais pessoas disponíveis não faria as coisas com menor intensidade, simplesmente porque não sei viver as coisas com menor intensidade. No entanto, tenho sempre a consciência que estou sempre muito aquém do que poderia fazer e do que sou chamado a fazer. E se eu, que até sei o que me é proposto, que até conheço Aquele que me propõe uma outra forma de vida, me refugio muitas vezes na minha própria vida, como poderei exigir dos outros aquilo que eu próprio não consigo dar?

Chego muitas vezes à conclusão que há apenas uma forma de seguir Jesus na radicalidade que ele nos pede: com entrega total e total disponibilidade interior. Tudo o que seja menos que isso fica aquém. Como eu.

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