20140317
Ontem, porque era domingo, festejamos antecipadamente o 93º aniversário da minha avó, que fará anos na próxima quarta feira. A vida ditou que nunca tivéssemos sido muito próximos. Como acontece muitas vezes nas famílias com dificuldades financeiras, a minha irmã foi para casa dela enquanto eu fiquei com os meus pais. Era uma forma de aligeirar as dificuldades, mas que teve, como não poderia deixar de acontecer, alguns custos.
Há pouco tempo, no entanto, apercebi-me que não teria avó por muito mais tempo e dispus-me a visitá-la mais frequentemente, a ir lá a casa para estar com ela. E tem sido muito bom. Ela fica felicíssima quando chego lá e, como normalmente ficamos apenas os dois, conversamos aquilo que nunca conversáramos antes. E como ela sabe que estou ligado a estas coisas de Deus e da fé, ela fala muitas vezes da vida e da morte, que é o seu futuro mais próximo e mais real.
As visitas à minha avó, as nossas conversas, o conhecimento que vou tendo dela, tem contribuído para me ir desmontando. Eu não sou de colocar etiquetas nas pessoas mas, infelizmente, sou muito de as colocar em mim próprio. Ando sempre à procura da melhor gaveta para mim, do lugar onde poderei encaixar melhor, de me tentar perceber e prever. Não tem sido uma tarefa fácil. Cometo mitos disparates, digo muitos mais ainda, e às tantas sinto-me meio a navegar. Na realidade, tenho que aprender a pensar menos, a questionar-me menos e, sobretudo, a falar menos.
Escutar mais, aprender mais. A minha avó ajuda-me bastante a fazer isso. Quem pensa que as pessoas, qualquer que seja a sua idade, qualquer que seja a sua condição, são dispensáveis, está ainda mais perdido que eu.
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