"És pó..."
No final da conferência, perguntou-me se a minha vida tinha sido sempre um mar de rosas. Apeteceu-me dizer-lhe que pancada é o meu nome do meio. Por vezes acho que a minha vida é quase só pancada. Quando penso que as coisas estão finalmente a encarreirar, vem a vida e encarrega-se de me colocar os pés no chão.
"És pó..."
Eu sei que sou pó, eu sei que me sinto muitas vezes fogo de vista, eu sei que quem torto nasce tarde ou nunca se endireita, eu sei isso tudo, mas por vezes apetece-me muito voltar as costas a tudo, pegar numa mochila, e arrancar, sem olhar para trás.
"És pó..."
Disse-lhe que não, que não era tudo um mar de rosas, mas que eu faço um esforço para dar importância apenas àquilo que é verdadeiramente importante. É uma questão de escolha. Como toda a minha vida. Creio que se tivesse caída numa fossa e estivesse mergulhado na merda até ao pescoço provavelmente arranjaria forma de pensar que a merda até faz bem à pele e manter-me-ia à tona o máximo de tempo possível. E isto não é bom. Nunca foi bom. É uma forma de mascarar a realidade - o que quer que isso seja - é uma forma de procurar ser feliz mas, acima de tudo, sempre foi uma forma de sobrevivência. A questão é que, por muito que eu tente manter-me à tona, tem dias em que me apercebo que nunca saí dessa fossa, e que tudo é ilusão.
"És pó..."
Gosto muito da quaresma. Deve ser da idade. Antes, gostava muito mais do Natal, do encontro com os outros, da festividades. da música, das luzes e da alegria. Agora, à medida que vou crescendo para dentro, vou-me apercebendo que sou muito mais quaresma.
"És pó..."
Não te preocupes. Eu sei que sou pó. A vida encarrega-se de mo lembrar.

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