Por vezes penso que, se há indústria que está em pleno desenvolvimento cá pelos meus lados, para a qual nunca há nem há de existir crise, é a geologia. Conheço pessoas para quem parece que o único objetivo de vida é descobrir falhas. Mais: algumas delas estão plenamente convencidas que proclamar as falhas alheias é um desígnio pessoal, uma tarefa de tal forma importante que o mundo acabaria se não fossem os seus sempre ajuizados e cheios de razão gritos de alerta. Vivem permanentemente atentas ao que não corre bem, interpretando cada oscilação menos perfeita como o pré-anúncio de uma hecatombe.
No entanto, todos os geólogos deste tipo que conheço, são ainda mais implacáveis para si próprios que para os outros. São, por isso, pessoas frequentemente amarguradas, desconfiadas, pouco seguras de si, para quem a única certeza é que a catástrofe acabará, inevitavelmente, por acontecer. É como se escolhessem relevar apenas o lado escuro da vida, interpretando tudo o que a vida tem de bom como demasiado fugaz e ilusório. Cultivam a infelicidade como modo de vida e têm medo, muito medo, de serem felizes, porque se alguma coisa corre bem é porque, de certeza, alguma coisa muito má estará para acontecer.
Normalmente, para estes geólogos, a verdade está acima de tudo, é o valor mais alto, e por isso a proclamam cheios de orgulho, não percebendo que há pessoas que, se nada dizem, não é porque não consigam ver a verdade, mas porque entendem que há verdades que não vale a pena serem ditas, ou que há alturas e formas diferentes de tentar fazer ver a verdade, recatadamente, sem por ninguém em causa nem provocar pânico. Então existem eles, os paladinos da verdade, os corajosos, que dizem o que querem custe o que custar, doa a quem doer; e os outros, aqueles para quem o mundo não é preto e branco mas tem tonalidades, tem cores, tem outras formas de ver a vida e, sobretudo, de viver a vida.
E isso, para qualquer geólogo que se preze, é perfeitamente incompreensível!

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