Nunca me considerei fora deste mundo. Tenho demasiada vida vivida, tenho demasiado passado e, sobretudo, tenho demasiado sonho de futuro para sequer ter a vontade de viver num mundo à parte. No entanto, tenho já alturas em que não me é muito fácil encaixar em algumas das coisas que esta malta nova faz. E que publicita, escancara, nas redes sociais. Há pouco tempo era a história de beber a cerveja de penalty, hoje vi uma outra coisa do género: dois estranhos a beijarem-se pela primeira vez enquanto esse momento é registado para o Facebook.
Eu percebo que muita desta malta nova ande à deriva. Muita multidão, muito ruído, muita confusão, muita sofreguidão de viver. Neste ponto não são muito diferentes do que eu era na idade deles. Mas eles têm um problema: uma enorme desconfiança do futuro, que deriva de uma profunda descrença. Perderam a referência familiar - provavelmente os pais andam eles próprios ainda á procura de si mesmos - perderam o sentido da vida, não acreditam já nos amanhãs que cantam nem no mundo que há de vir, têm medo de ficar sós e tentam contrariar esse temor da solidão da pior forma possível: expondo a pior parte de si, fotografando-se e filmando-se na superficialidade e no vazio. O que lhes é próprio, original, único, o que faz deles pessoas com sentido, é escondido dos olhares alheios, por vergonha da diferença. Segundo eles, o que é importante tem que caber num like, em 140 carateres ou numa sms. O que vá além disso é ultrapassado.
Uma das coisas que mais me intriga é que este não é um comportamento estanque. Não há alguém que é assim e outro alguém que é assado. Não há pessoas com um determinado comportamento e outras com outro. Há pessoas, jovens ou não, que em determinada altura, têm este comportamento de uma forma massificada e irracional, que agora estão num desses desafios completamente parvos e mentecaptos e uma hora depois estão com a mesma naturalidade e a mesma entrega numa oração plena de silêncio e profundidade.
Até pela minha profissão, até pela malta com quem vivo a maior parte de cada um dos meus dias, até pelo profundo interesse - preocupação? - que me despertam, vivo tempos profundamente desafiadores. Por um lado, inquieta-me, incomoda-me, a sua forma de vida. Por outro lado, no entanto, por vezes tenho enorme dificuldade em lidar com o seu desperdício de dons e talentos, com o seu deixar andar, com o Carpe Diem de que tanto se orgulham.

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