São impagáveis, aqueles momentos a seguir ao jantar, lá em casa. Se durante o jantar vamos conversando, algazarradamente, sobre como foi o nosso dia, por entre gargalhadas e ralhetes, a profundidade está normalmente reservada para o prolongamento. Na realidade, apesar de perdermos muito tempo, todos os dias, à volta da mesa, por vezes precisamos ainda de mais tempo, desta vez com maior serenidade, para falarmos do que nos inquieta. E ficamos, normalmente, dois ou três, a discutir um qualquer assunto que tenho vindo à baila, normalmente relacionado com a fé. Ou melhor, com a forma como a fé se confronta com o quotidiano, O seu quotidiano.
À medida que os meus filhos se vão descobrindo no caminho que percorrem, vão-se confrontando com o que foram aprendendo de nós, dos avós e de toda a comunidade de fé que nos envolve, nem sempre condizente com o mundo muito mais multicolor com que se deparam na faculdade. É nesta altura que fazem as suas primeiras escolhas decisivas, fundamentadoras, porque nós já não estamos nem queremos estar para decidir por eles. E nem sempre é fácil lidar com as suas escolhas.
Sempre fiz questão que os meus filhos tivessem a cabeça em cima dos ombros. Que fossem cidadãos do seu tempo, do seu mundo - que em muitos aspetos já não é o meu - mas com o upgrade de consciencialização que apenas a fé em Jesus Cristo pode proporcionar. Gostam de se divertir, como todos, fazem disparates, como todos, por vezes andam meios perdidos, como todos, mas têm sempre consciência que a vida é muito mais que apenas diversão, que apenas disparates, porque tem um sentido que lhe é dado pela fé. E isso faz toda a diferença. Nunca quis que fossem vistos como abéculas, ou como toninhos da Igreja, até porque é no mundo, sendo do mundo, sendo respeitados e admirados pela sua alegria de viver, que eles podem ser melhor testemunho. É mais perigoso, concerteza, é muito mais trabalhoso, é muito mais exigente para nós, pais, e principalmente para eles, que se vêm confrontados desde cedo com a necessidade de escolher quem querem ser.
Mas é por isso que temos aqueles momentos a seguir ao jantar, lá em casa. É aí que, normalmente, conversamos o que eles sentem necessidade de conversar.
E semeamos.

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