Se me pedissem para me definir numa só palavra, a resposta era fácil: pai. Eu sou pai. Tirem-me isso e tiram-me tudo, absolutamente tudo, fico sem qualquer motivo para sequer respirar. Nada me dá mais gozo, nada me ocupa mais tempo, nada me ocupa mais de mim e em mim, nada é tão exigente, nada é tão bom e tão total como ser pai. Era o que mais temia, é o que mais e melhor me preenche. Conhecer a fundo os meus filhos, acompanhá-los, ficar atento aos pequenos e grandes sinais, ter as pequenas e grandes conversas, a sós ou gerais, ter o enorme privilégio de os ver crescer por dentro e por fora, batalhar por eles e com eles, todos os dias, ajudá-los a resolver os problemas com que se vão deparando, aprender a ser humilde e a levar na cabeça quando é preciso, reconhecendo-lhes capacidade para o fazer, tudo isto e muito mais, é motivo mais que suficiente para preencher uma vida.
E um casamento.
Nós vivemos em função dos nossos filhos, preparando-lhes o caminho, fornecendo-lhes as ferramentas para que eles o possam escolher e continuar da melhor forma possível, sem, contudo, nos esgotarmos neles. Vivemo-los, respiramo-los, mas não nos aniquilamos, nem enquanto pais, nem enquanto casal, nem enquanto pessoas. Porque eles e nós também precisamos disso, desse espaço, dessa distância artificial e ilusória mas absolutamente essencial para que eles possam ser.
Não há uma forma correta de ser pai. Não há outra forma de o ser senão às apalpadelas convivendo todos os dias com a dúvida e a incerteza, não sabendo nunca se tomamos a decisão certa, se fomos demasiado tolerantes ou demasiado exigentes, sem nenhuma certeza a não ser aquela que vamos bebendo do amor pelos nossos filhos.
É difícil ser pai. Acredito, no entanto, que seja ainda mais difícil ser meu filho. Mas nenhum de nós se tem dado mal com essa exigência totalizante e totalizadora. Afinal, é apenas de amor que se trata.

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