“Houve certos seres através dos quais Deus me amou”   
Saint Martin, filósofo do século XVIII

Adoro quando a minha verdade me chega de fora. Pode ser um livro, um filme, ou, como neste caso, a leitura de uma frase de uma das fabulosas entrevistas da Anabela Mota Ribeiro. 

Por vezes cometemos o erro de pensar que somos especiais de corrida. No fim de semana passado, a propósito de uma acontecimento desagradável com alguém que ambos conhecemos, conversava com o meu filho mais novo. Ele dizia algo como "Não estava nada à espera que isso acontecesse. Ele não é de fazer destas coisas." E eu dizia-lhe que nós não somos especiais de corrida, nem vivemos em cima de um altar, nem pairamos acima de ninguém num pedestal. Nós somos pessoas comuns, mergulhadas na vida como todas as outras. Não existe essa coisa de "nós não fazemos destas coisas" ou de sermos particularmente abençoados por Deus, que evita que façamos o mal ou que coisas más nos aconteçam. O que nós somos é o que todos são. O que nos distingue enquanto pessoas, no fundo, é a nossa (in)capacidade de dizer sim ou não ao que se nos vai apresentando diante de nós. 
Claro que todos temos as nossas circunstâncias, que nos podem ou não condicionar, claro que não somos impermeáveis aos e ao que nos rodeia, mas em última análise a responsabilidade pela nossa vida e pelos nossos actos é sempre nossa. Por isso eu sempre alertei os meus filhos para terem muito mais cuidado com os amigos que com aqueles que lhes são indiferentes. Porque são os nosso amigos quem tem uma parte importante da nossa vida nas suas mãos. É com eles - e muitas vezes por eles - que temos os gestos mais grandiosos e que fazemos as coisas mais estúpidas. 
Quando estava em Moçambique pensei muitas vezes que nós não somos muito diferentes uns dos outros. Que as necessidades humanas dos miúdos e graúdos com quem trabalhávamos não eram diferentes daqueles com que todos os dias me deparo em Ramalde. Todos eles - e eu! - precisam de alguém que lhes dê atenção e carinho, todos eles - e eu! - precisam de sentir que têm lugar na vida de alguém, todos eles - e eu! - precisamos que testemunhem o que todos os dias tentamos ser.
Eu ficaria feliz se, em algum momento, tiver conseguido ser o ser através do qual eles se sentiram amados por Deus.

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