Uma das discussões mais recorrentes que tenho com alguém de quem gosto muito (e que considero como minha mãe) é acerca da verdade.

Confesso que tendo a não gostar dos paladinos da verdade. Aliás, eu nem gosto dos paladinos de coisa nenhuma, mas da verdade, então... Pessoas cheias de si, da sua autoridade moral, que vêem a vida do alto do seu pedestal enquanto dificilmente nos suportam, a nós, pobres coitados e pecadores, absolutamente errantes, perdidos à espera de uma migalha da sua imensíssima sabedoria. Não posso com pessoas cheias de si e uma das coisas que me derruba com maior facilidade é quando alguém me diz que eu estou cheio de mim. E isso, infelizmente, acontece algumas vezes. E é motivo para passar os dias seguintes em reclusão à procura do que falhou. Adiante!

Esta questão da verdade vem desde sempre, e desde sempre eu a sinto como uma acusação. A pessoa em causa diz sistematicamente coisas como "a verdade acima de tudo" ou "a verdade, custe o que custar, doa a quem doer" e termina sempre com o argumento da autoridade "Jesus sempre disse a verdade". Um dia destes, algures depois do domingo do evangelho da pecadora, eu disse-lhe que Jesus, acima da verdade, colocava a caridade. Que se quisesse ter-lhe-ia atirado com a verdade à cara, que lhe teria dito para se deitar na cama que tinha feito, mas o que Ele fez foi dar maior importância à pessoa que tinha diante de si que à verdade propriamente dita. Não a escondendo, não a negando, não a desvalorizando, confrontou os acusadores com a sua própria verdade mas mas escolheu confrontar a mulher pecadora consigo própria, com os seus desígnios, com o seu futuro e conseguiu que ela desse o salto para retomar a dignidade que, ela e os outros, julgavam perdida. E deu-lhe a possibilidade de ser ela própria a tomar a sua própria vida nas suas mãos : "vai e não tornes a pecar".

É incrível como Jesus liga o descomplicador!


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