Retomo o quotidiano, depois de uma Páscoa que não foi nada fácil. Desta vez não consegui fazer qualquer pausa. Pelo contrário. Um Centro Comunitário a abarrotar de malta nova sem nada que fazer - e, como bem sabia o Padre Américo, é tão importante que estejam ocupados! - umas celebrações pascais a requererem a minha participação, uma casa cheia a exigir a minha presença... e uma permanente sensação de correria que me incomodou permanentemente. E, algures por entre a correria, um Deus que ressuscita.

Não é fácil gerir Marta e Maria. Se, por um lado, encontro o Ressuscitado justamente naqueles a quem me vou entregando, por outro, a azáfama constante rouba-se o silêncio, a calma e a serenidade e afasta-me do encontro profundo que preciso que aconteça. E não consegui ainda encontrar esse equilíbrio. Algures entre o trabalho no Centro, os ensaios, as celebrações, a visita pascal no compasso, a vida escapa-se-me por entre os dedos. E essa é uma sensação terrível!

Como sempre acontece, recebi este ano algumas mensagens de amigos. Uma delas apenas me questionava: "Que se passa contigo?" Não respondi porque não sabia o que responder. Poucas coisas me chateiam tanto como não saber o que responder. Quando os meus filhos chegavam ao Segundo Ciclo, eu sentava-me com eles e dizia-lhes : "a partir de agora, podes fazer o que quiseres... desde que me saibas explicar porque o fizeste." Detesto o encolher de ombros, o ir na onda, o não se questionar, o não se saber porque se faz o que quer que se faça. Detesto ainda mais quando eu próprio não sou capaz de responder.

Hoje de manhã rapei a barba. Para me recordar do motivo pelo qual acordo, de quem me é verdadeiramente importante, em função de quem quero viver. Para me recordar, efectivamente, que o mais cómodo nunca é o melhor e que eu não sou a medida de coisa nenhuma. Para me recordar que, se deixar correr o marfim, não tardarei a encolher os ombros quando alguém que me é importante me perguntar o que se passa comigo.

Hoje de manhã rapei a barba. Reassumi o comando.

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