Uma das acusações mais constantes que me são feitas, particularmente por aqueles que me amam, é a de incoerência. Que muitas vezes digo uma coisa e faço outra, ou que então, umas vezes digo uma coisa e passado pouco tempo digo o seu oposto.

Confesso que, tirando naquela meia dúzia de convicções profundas que pautam e definem a minha vida,  a coerência não faz parte das minhas preocupações quotidianas. Normalmente, não estou muito preocupado com o que disse ou fiz em determinada altura e por isso esqueço-me com muita facilidade. Também nunca me senti muito amarrado a mim próprio, nunca tive grande dificuldade em reconhecer que não sou dono de verdade nenhuma e facilmente encontro no outro razões válidas para defender uma posição que difere da minha.

Esta semana tive um Dia de Reflexão. De uma turma que sabia ser complicada, com alguns alunos com quem tive já uns desaguisados e, justamente por isso, não estava com grande vontade de os acompanhar. No entanto, como gosto ainda menos do jogo do empurra, lá fui. E não me arrependi. No primeiro dia as coisas correram muito bem, a noite foi muito complicada e eles deitaram tudo a perder, mas quando a manhã veio conseguimos ainda minimizar os estragos.

Se eu fosse absolutamente coerente, se eu me agarrasse às minhas convicções, se eu não me deixasse envolver pelas circunstâncias (não é isso que nos torna mais ou menos coerentes?) provavelmente não teria conseguido chegar até eles, não teria conseguido fazê-los pensar e não teria conseguido dar-lhes a conhecer, efectivamente, um Deus para quem o que importa é o que eu quero fazer e não tanto o que fiz, o que quero ser e não o que fui. Provavelmente não me teria deixado cativar pelos seus olhares (sempre o olhar!), pela sua irreverência, e não teria deixado envolver por eles.

Os que me acusam - porque me amam - dizem-me que, desta forma, não sabem com o que podem contar. Que não lhes transmito segurança porque sou muito variável. Eu respondo-lhes sempre que tento sempre ser autêntico e verdadeiro. Naquilo que é minha convicção profunda, sou absolutamente coerente. Naquilo que constitui o que eu chamo a espuma dos dias, estou muito mais preocupado em aprender com o que oiço e vejo que em travar batalhas por coisa nenhuma.

E raro é o dia em que não sinto que aprendi alguma coisa de importante!

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